A cibersegurança deixou de ser uma questão exclusivamente técnica para se tornar um imperativo estratégico de negócio. Em um cenário em que a transformação digital acelera a convergência entre ambientes de TI e Tecnologia Operacional (TO), a adoção de frameworks de GRC (Governança, Risco e Compliance) em cibersegurança pode ser o diferencial para tornar as organizações resilientes.
A governança em cibersegurança estabelece as estruturas para decisões que conectam a postura de segurança ao perfil de risco do negócio. Diferentemente de abordagens reativas, em que é tratada como centro de custo, a governança efetiva posiciona a cibersegurança como vetor de inovação e crescimento.
Isso direciona as decisões sobre investimentos em cibersegurança, considerando não apenas vulnerabilidades técnicas, mas impactos potenciais em receita, operações críticas e relacionamento com clientes. Para investidores e conselhos de administração, isso se traduz em impacto direto no valuation, reputação e continuidade operacional.
Gestão de riscos: da vulnerabilidade técnica ao impacto no negócio
A gestão de riscos cibernéticos diferencia vulnerabilidades técnicas de riscos materiais ao negócio. Nem toda vulnerabilidade crítica representa o mesmo nível de ameaça para diferentes organizações. O contexto importa e impacta na tomada de decisão.
É preciso quantificar probabilidade e magnitude de perdas, traduzindo cenários de ameaças em linguagem financeira. Por exemplo: qual o impacto de uma interrupção de 72 horas na linha de produção? Qual o custo de vazamento de propriedade intelectual para um concorrente? Essas análises fundamentam decisões sobre alocação de recursos e priorização de investimentos.
Compreender o perfil de atacantes que miram seu setor, suas táticas, técnicas e procedimentos e os ativos mais visados permite adotar postura defensiva proporcional à ameaça real.
Na prática de consultoria em GRC no contexto da cibersegurança, observamos que organizações maduras em gestão de riscos adotam abordagens baseadas em cenários de negócio, não apenas em inventários de vulnerabilidades. Isso significa mapear ativos críticos, entender dependências operacionais, riscos da cadeia de terceiros e modelar impactos financeiros de diferentes vetores de ataque.
Compliance: regulação como catalisador
Compliance bem estruturado estabelece baseline de controles que reduzem riscos sistêmicos, criam diferenciação competitiva em mercados regulados e habilitam entrada em novos mercados. Organizações certificadas têm vantagens tangíveis em processos de due diligence para M&A, captação de investimentos e contratos com grandes corporações.
A implementação efetiva de GRC em cibersegurança depende de tecnologias que integrem dados, automatizem processos e forneçam visibilidade em tempo real. A convergência de GRC com arquiteturas Zero Trust, por exemplo, estabelece modelo de segurança adaptativo que equilibra proteção e experiência do usuário.
Organizações com maturidade em GRC compartilham características como:
Liderança engajada: executivos que compreendem cibersegurança como risco de negócio, não apenas problema técnico.
Integração operacional: segurança embarcada em processos de desenvolvimento, aquisições e gestão de terceiros.
Mentalidade de melhoria contínua: testes regulares (red team, purple team, simulações de incidentes…) que validam efetividade de controles.
Comunicação efetiva: capacidade de traduzir riscos técnicos em linguagem de negócio para diferentes stakeholders.
A transformação digital criou um gap entre velocidade de adoção tecnológica e maturidade em segurança. Organizações implementaram cloud, IoT, trabalho remoto e e-commerce sem necessariamente fortalecer controles na mesma proporção e investir na maturidade de segurança das suas equipes.
GRC em cibersegurança não é despesa operacional, mas investimento estratégico que protege valor, habilita crescimento e diferencia organizações em mercados cada vez mais digitais.
*Coluna escrita por Renato Batista, formado em Administração de Empresas e Sistemas de Informação e com MBAs em Marketing e Cyber Security Governance & Management, fundador e CEO da Netglobe Cyber Security
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