O mercado financeiro segue de olho na temporada de balanço, nesta sexta-feira (31). O período foi marcado por resiliência operacional, expansão internacional e ganhos de eficiência, enquanto a pressão dos juros e do custo de capital segue limitando a retomada plena de alguns setores.
Nesta temporada de balanço, companhias como Marcopolo, Irani e Vivo apresentaram resultados sólidos, sustentados por disciplina operacional, avanço das exportações e estabilidade de margens, apesar do cenário de juros elevados e crédito restrito. Além disso, Multiplan e Gerdau seguem de no radar.
Balanço da Marcopolo: trajetória de crescimento e liderança no setor
A Marcopolo (POMO4) apresentou um trimestre sólido, com lucro líquido de R$ 329,6 milhões no terceiro trimestre, valor 1,8% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado e inferior, segundo balanço publicado nesta quinta (30). A receita líquida de R$ 2,5 bilhões, com alta de 8,2% em relação ao ano anterior, impulsionada pela melhor performance das operações externas e pelo mix mais favorável de produtos. O Ebitda ajustado somou R$ 491,1 milhões, avanço de 14,3%, com margem de 19,6%, mesmo após o impacto de um impairment de R$ 71,3 milhões na coligada canadense NFI.
A companhia encerrou o trimestre com endividamento líquido de R$ 1,28 bilhão, o que representa apenas 0,05x o Ebitda dos últimos 12 meses, reforçando a solidez financeira.
No mercado interno, a receita de R$ 1,24 bilhão representou 49,7% do total e foi afetada pela restrição de crédito, embora compensada pela recuperação dos segmentos de ônibus urbanos e elétricos, com 64 unidades elétricas entregues no trimestre, frente a apenas 8 no ano passado. As exportações cresceram 31% em unidades, com destaque para os mercados de Chile, Argentina, Peru e Austrália, e contribuíram para elevar a participação internacional a 35,7% da receita consolidada.
A MSX Invest destacou que a Marcopolo segue ampliando sua presença global com novos modelos híbridos e elétricos, além de uma linha de exportação voltada à Europa a partir de 2026. “Mesmo com a normalização dos volumes domésticos, o trimestre demonstrou forte rentabilidade e uma estrutura de capital conservadora, fatores que sustentam a atratividade do case no médio prazo”, analisou.
Irani amplia margens e avança em desalavancagem com eficiência operacional
A Irani (RANI3) registrou receita líquida 4,7% maior que a do ano anterior, com crescimento de volumes e aumento de preços no segmento de embalagens sustentáveis, especialmente papelão ondulado. O Ebitda ajustado somou R$ 146,2 milhões, alta de 15,9%, e a margem Ebitda atingiu 33,7%, o maior nível desde a implantação da Plataforma Gaia.
A relação dívida líquida/Ebitda caiu para 2,06x, ante 2,30x no trimestre anterior, sinalizando forte desalavancagem e conforto financeiro. A empresa terminou o período com R$ 681,5 milhões em caixa e rating AA.br pela Moody’s Local BR, com perspectiva estável.
A MSX avalia que, além da disciplina financeira, a Irani reforçou seu compromisso ESG ao avançar com o Projeto Gaia V – Repotenciação São Luiz, voltado à energia renovável, com investimento de R$ 125,9 milhões. “A companhia confirma evolução operacional consistente e geração sustentável de valor, mesmo em um cenário de custos ainda pressionados”, afirmou a MSX.
Balanço da Vivo: crescimento em receita e lucro, mas maturidade do setor de telecom segue no radar
A Telefônica Brasil (VIVT3) apresentou um trimestre positivo, refletindo a natureza estável de seu oligopólio com Claro e TIM, e o foco em crescimento sustentável. A receita líquida avançou 6,5%, para R$ 14,9 bilhões, impulsionada pelos segmentos de pós-pago (+8%), fibra (+10,6%) e serviços digitais (+22,8%).
O Ebitda somou R$ 6,5 bilhões, alta de 9%, com margem de 43,4%, a maior em dois anos. O lucro líquido subiu 13,3%, para R$ 1,89 bilhão, sustentado pelo controle de custos e melhora operacional. O balanço também trouxe um fluxo de caixa operacional avançou 12,4%, reforçando a disciplina financeira.
- A base total de acessos atingiu 116,6 milhões (+1,2%), com destaque para o pós-pago (69,8 milhões, +7,3%) e a fibra óptica (7,6 milhões de clientes, +12,7%). O ARPU subiu 3,9%, para R$ 31,5, e o churn da fibra caiu para 1,46%, refletindo fidelização da base.
- As despesas financeiras cresceram 26%, somando R$ 666 milhões, devido à atualização monetária da taxa Fistel TFF, cujo passivo alcançou R$ 6 bilhões. Ainda assim, a empresa encerrou o trimestre com caixa líquido de R$ 3 bilhões e dívida bruta 24,6% menor na comparação anual.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, “a Vivo entregou mais um trimestre de estabilidade e eficiência, refletindo a maturidade do setor de telecom. O crescimento de receita e margens mostra um negócio resiliente, mas também evidencia que o avanço vem cada vez mais de reajustes e upsell, não de novos clientes. É um case de fluxo de caixa previsível e atrativo para dividendos, mas com margens sob pressão diante do custo de capital elevado”.
A Vivo segue líder nacional em infraestrutura de fibra e cobertura 5G, com 683 municípios atendidos, o que representa 66,7% da população brasileira, e mantém política de dividendos que prevê a distribuição de 100% do lucro líquido até 2026.
O CEO e o CFO da companhia destacaram os seguintes pontos:
“Encerramos o trimestre com resultados que reforçam a solidez e a consistência do nosso desempenho. A operação fixa alcançou o maior avanço da história recente da companhia, impulsionada pela inserção da nossa fibra nos domicílios, enquanto o EBITDA apresentou o crescimento mais expressivo dos últimos dois anos. São marcos que refletem a disciplina da nossa estratégia, combinando eficiência operacional, inovação e foco em rentabilidade”, diz o presidente da Vivo, Christian Gebara. “Seguimos, ainda, acelerando a digitalização dos clientes, consolidando a liderança em conectividade e ampliando a presença da Vivo em um ecossistema digital cada vez mais abrangente”, explica.
“Apresentamos um trimestre com crescimento contínuo, traduzido em avanço histórico de importantes indicadores financeiros e linhas de negócio. Nosso compromisso é entregar retorno sustentável aos acionistas, mantendo uma gestão disciplinada e direcionando capital para negócios que ampliam a relevância da companhia”, destaca o Chief Financial Officer (CFO) da Vivo, David Melcon.
Multiplan tem queda no lucro, mas desempenho operacional segue firme
A Multiplan (MULT3) reportou lucro líquido de R$ 221,1 milhões, queda de 20,9% em relação ao 3T24, influenciada pelo aumento das despesas financeiras diante do cenário de juros elevados e maior endividamento.
Apesar disso, os números operacionais permaneceram saudáveis, com crescimento nas receitas de locação, estacionamento, serviços e vendas de imóveis, além de controle rígido de despesas administrativas.
O desempenho reforça a capacidade da companhia de manter margens operacionais estáveis mesmo em ambiente de custo de capital elevado, sustentando o fluxo de caixa e o potencial de distribuição de proventos.
Gustavo Cruz, da RB, destaca que o principal ponto negativo foi o impacto dos juros sobre o resultado líquido. “Apesar do bom desempenho operacional, o lucro líquido caiu 20,9%, para R$221 milhões, pressionado pelo aumento de 135% nas despesas financeiras, que atingiram R$200 milhões, reflexo da Selic em 15% e do maior custo de dívida, mesmo após emissão a 98% do CDI e leve redução da alavancagem“, destacou o estrategista.
O FFO e a margem líquida recuaram cerca de 1.700 p.b., sinalizando que o ambiente de juros elevados ainda limita a conversão do forte desempenho operacional em lucro líquido. “Ainda assim, a companhia encerra o trimestre com portfólio robusto, pipeline relevante e indicadores operacionais em máximas históricas, o que sustenta uma visão construtiva de médio prazo“, destacou.
Outros destaques:
A Vale S.A. (VALE3) reportou um lucro líquido de US$ 2,7 bilhões no terceiro trimestre de 2025, representando um aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano anterior. A empresa também apresentou expansão de receita e maior eficiência operacional, consolidando-se entre as maiores exportadoras de minério de ferro do mundo. Leia a análise completa clicando aqui.
A temporada de balanços confirma a resiliência das companhias brasileiras. Enquanto a Marcopolo e a Irani se destacam pela expansão internacional e eficiência produtiva, a Vivo mostra estabilidade e geração de caixa previsível. Já a Multiplan enfrenta maior impacto financeiro, mas mantem bases sólidas para atravessar o ciclo de juros altos.
 
			



 














