Entre 2016 e 2020, o Brasil viu sua política monetária mudar rapidamente, o que fez com que a taxa Selic despencasse mais de 12 pontos percentuais neste período, para 2% ao ano. Entretanto, o avanço descontrolado da inflação fez com que os juros subissem novamente em 2021. Com sete altas seguidas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa para 9,25% na última reunião do ano, em 9 de dezembro.
Na última edição do Boletim Focus, um relatório semanal de projeções publicado pelo BC, a projeção dos economistas para a taxa Selic em 2022 subiu de 11,25% ao ano para 11,50%. Enquanto isso, as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador de inflação do Brasil, ficaram em 5,02% após 20 semanas em alta.
Por que a Selic subiu tanto em 2021?
Em linhas gerais, a Selic serve como referência para outras taxas praticadas no país, como de empréstimos e financiamentos, além de ser utilizada para o cálculo da rentabilidade de títulos públicos. Dessa forma, esse indicador funciona também como uma ferramenta para controlar a inflação.
Afinal, um cenário de juros baixos gera aumento do acesso ao crédito, o que estimula o consumo, aumenta a demanda e aquece a economia, mas também pode acelerar a inflação. No cenário oposto, o Produto Interno Bruto (PIB) tende a se retrair, mas o avanço dos preços é controlado.
Não é à toa que diversos países mundo afora aumentaram os juros para conter a inflação após os impactos da pandemia. Somente neste mês, Inglaterra, México e Colômbia foram algumas das nações que revisaram suas políticas monetárias e elevaram as taxas básicas. Além disso, o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, já sinalizou três acréscimos para o próximo ano.
Quais são as expectativas para 2022 no Brasil?
De acordo com Roberto Vertamatti, diretor da Associação Nacional dos Executivos de de Finanças, Administração e Contabilidade (ANEFAC), a Selic deve se manter “lá em cima” em 2022. Para o especialista, o Copom deve repetir o aumento de 1,5 ponto percentual na próxima reunião, nos dias 1 e 2 de fevereiro, e continuar elevando os juros ao longo dos meses. Assim, a taxa deve encerrar o próximo ano entre 12% a 13%.
“Eu já não estou acreditando muito que haja, a partir do meio do ano, uma redução da Selic. Sem dúvida nenhuma, esse cenário leva a um PIB mais contraído ainda. Eu entendo que é um remédio amargo”, explica ele.
O avanço dos juros para conter a inflação também é esperado por Marcos Saravalle, analista CNPI e sócio-fundador da BM&C e da SaraInvest. De acordo com ele, o aumento de 1,5% deve ocorrer na primeira reunião do ano. Entretanto, as altas seguintes devem ser menores, conforme a inflação vá desacelerando.
“Fica a dúvida para os próximos passos [após a reunião do Copom em fevereiro], se [o aumento dos juros] será de 0,25% ou 0,5% ou se será tudo de uma vez, mas deve caminhar próximo de 12% […] É lógico que a gente tem uma pedra no caminho, uma eleição que traz toda incerteza possível”, ressalta ele.
Já para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha, as perspectivas são um pouco mais otimistas. A especialista também acredita que os juros devem se manter elevados ao longo de 2022. Entretanto, segundo ela, aumentar a taxa Selic para 11,50% ao ano já deve ser suficiente para começar a conter a inflação.
“Este patamar deve ser suficiente para promover uma gradual convergência da inflação à trajetória de metas até 2023. Mas, lembrando que essa projeção é válida na ausência de choques globais ou da deterioração adicional das contas públicas”, conclui Abdelmalack.
















