A segunda semana de dezembro começa com uma combinação rara de fatores capazes de alterar o humor dos mercados globais e domésticos: uma agenda marcada por decisões de múltiplos bancos centrais, incluindo o Fed e o Copom, e novos desdobramentos políticos no Brasil que adicionam volatilidade aos ativos locais.
Francisco Alves, operador de mercado e apresentador do programa Pre-Market na BM&C News, avalia que será uma semana “importante e intensa”, marcada por dados de inflação, atividade econômica e política monetária, além da repercussão do cenário político no país.
Brasil na Superquarta: Selic deve ser mantida e Galípolo será destaque no mercado
No Brasil, a expectativa majoritária é de manutenção da Selic em 15%. A leitura do comunicado e, principalmente, a entrevista de Gabriel Galípolo após a decisão serão determinantes para avaliar se há espaço para mudança na orientação futura.
Ao longo da semana, o mercado também monitora o Focus, os dados de produção de veículos da Anfavea, além da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) no fim da semana. O IPCA de novembro será divulgado antes da decisão e pode influenciar a precificação dos juros futuros.
Estados Unidos: PCE “ok” e expectativa dividida para o Fed
A divulgação do PCE de setembro, indicador de inflação preferido do Federal Reserve, trouxe números que não reforçam unanimidade sobre um corte de juros, mas também não afastam a leitura construtiva do mercado.
- PCE cheio: +0,3% no mês; +2,8% em 12 meses
- Núcleo: +0,2% no mês; +2,8% em 12 meses (abaixo dos 2,9% esperados)
Com isso, o CME Group aponta cerca de 87% de probabilidade de corte de 25 pontos-base na quarta-feira. Ainda assim, o Fomc segue dividido, e a decisão pode não ser unânime.
Além da decisão, o mercado aguarda o discurso de Jerome Powell e a nova edição do gráfico de pontos (dot plot), que detalhará projeções para juros e atividade em 2026.
China no radar do mercado
Na China, o mercado acompanha a divulgação da balança comercial, além do CPI e PPI, que devem indicar a evolução dos preços no varejo e no atacado em meio ao ambiente de fraqueza da demanda doméstica. No Japão, o foco recai sobre o PIB do terceiro trimestre, os dados de inflação e leilões relevantes do Tesouro.
Para Francisco Alves, os números asiáticos serão determinantes para calibrar expectativas sobre crescimento global.
“Japão e China abrem a semana trazendo dados importantes. O fluxo da região dita o ritmo inicial dos mercados antes da superquarta”, afirmou.
Série de bancos centrais movimenta mercados globais
A semana também marca decisões de política monetária em outras economias relevantes:
- Terça-feira: Banco da Austrália
- Quarta-feira: Banco do Canadá, Copom e Fed
- Quinta-feira: Banco Central da Suíça e Banco Central da Turquia
Segundo Francisco Alves, este conjunto de decisões tende a monopolizar a atenção do mercado global.
“As decisões de política monetária vão dominar a semana. Estados Unidos, Brasil, Canadá, Austrália, Suíça e Turquia estarão no radar dos investidores”, afirmou.
Ruído político brasileiro segue no foco e amplia volatilidade
O noticiário doméstico continua sendo fonte de volatilidade. A confirmação de que Jair Bolsonaro escolheu o senador Flávio Bolsonaro como candidato à Presidência em 2026 mexeu com os mercados na sexta-feira, pressionando o câmbio, os juros futuros e o Ibovespa.
O próprio Flávio já admite recuar e condiciona sua desistência a um “preço”, mencionando que sua prioridade seria garantir a situação jurídica do pai. O episódio se somou às tensões entre Congresso e STF, e deve continuar influenciando os ativos domésticos nesta semana.
Agenda completa: indicadores, política monetária e eventos
Brasil
- Relatório Focus
- IPC-S
- Balança comercial
- Produção de veículos (Anfavea)
- IPCA
- Varejo e Serviços (IBGE)
- Decisão do Copom
- Declaração de Gabriel Galípolo
Estados Unidos
- JOLTS
- Pedidos semanais de seguro-desemprego
- PPI
- Decisão do Fed + coletiva de Powell
Europa
- CPI de Alemanha, França, Itália e Portugal
- Falas de Lagarde e Andrew Bailey
China
- Balança comercial
- CPI e PPI
- Vendas no varejo e produção industrial
Japão
- PIB
- Inflação
- Leilões do Tesouro
O que esperar da semana
Com múltiplos vetores simultâneos, inflação global, decisões de bancos centrais, tensão política no Brasil e indicadores de atividade, a semana promete movimentos relevantes nos mercados.
A superquarta será o momento decisivo: novas sinalizações do Fed sobre o ciclo de cortes, a orientação futura do Copom e a reação dos investidores ao conjunto de dados determinarão o tom para o fechamento de 2025.













