Uma semana depois de ter que dar explicações à B3 e à CVM, sobre a alta de preços das suas ações, a Oi (OIBR3; OIBR4) volta ao cenário de destaque, mas desta vez, a notícia não é nada animadora.
Investidores devem sentir os efeitos do pedido proteção à Justiça contra credores, no pregão desta quinta-feira.
Se nos últimos dias muitos investidores se perguntavam quais os motivos da ação subir mais de 80%, agora buscam respostas sobre o que deve acontecer com a companhia diante de mais um escândalo e de uma nova dívida de R$ 29 bilhões, que abre caminho, inclusive, para um novo pedido de recuperação judicial.
Nem mesmo a própria companhia soube responder o que aconteceu na última semana de janeiro sobre a disparada dos papéis.
Apesar do bom desempenho que a Oi teve no primeiro mês de 2023, a companhia amarga anos de quedas e histórico negativo.
Relembre a trajetória da companhia
2022
O ano de 2022 foi cheio de boas e más notícias para Oi. Na primeira semana do ano, foi aprovada a venda da Oi Móvel para Claro, Vivo (VIVT3) e TIM (TIMS3).
Após meses de burocracia e atrasos, o Cade (Conselho Económico de Defesa) sancionou a venda do maior ativo da Oi.
A venda da Oi Móvel foi um passo importante no plano de reestruturação da empresa que, além de deixar de ter atividade de telefonia móvel, utilizou o dinheiro da venda para quitar grande parte de suas dívidas, antigas, com credores.
Além da venda da Oi Móvel, o último ano também foi marcado pela expansão do atacado e varejo de fibra, pelo fim da Recuperação ]Judicial (RJ) e por um cenário macroeconômico mais positivo.
Mas como a empresa conseguiu acumular uma dívida gigantesca e cometer tantos erros no negócio?
Muitas das aquisições realizadas pela Oi não foram um bom negócio para a operação como um todo. Ao contrário, entre os investimentos havia empresas com elevadas dívidas e resultados inconstantes, e isso contribuiu para a dívida bilionária da companhia.
A própria Brasil Telecom já estava endividada quando a Oi a comprou. Inclusive, na época da negociação, o mercado especulava que ambas poderiam ser adquiridas por grupos estrangeiros, pois a Oi era forte no Norte, Nordeste e Sudeste, e a Brasil Telecom, no Sul e Centro-Oeste.
Os problemas da Oi se agravaram quando ela não recebeu R$ 3,2 bilhões previstos na fusão com a Portugal Telecom. Isso porque os recursos estavam aplicados em títulos de uma subsidiária do banco português Espírito Santo, que quebrou pouco tempo depois da fusão entre as duas empresas. O dinheiro da negociação nunca entrou no caixa da Oi, e ambas as empresas tiveram problemas.
Muitos analistas apontam que outro erro da companhia foi ter investido também em empresas com foco em negócios que não faziam sentido para a operação, como a participação da Oi na subsidiária Africatel, que foi vendida para uma petroleira angolana por US$ 1 bilhão.
Por que a empresa entrou em Recuperação Judicial? Relembre a trajetória;
O processo de Recuperação Judicial foi o maior já concluído da história do Brasil, começou em 2016, quando a empresa tinha R$ 65 bilhões em dívidas com 55 mil credores, e se encerrou em dezembro do ano passado. Nove dias depois, o pedido foi aceito pela Justiça do Rio de Janeiro. Seis anos depois, a dívida bruta da Oi, havia caído quase três vezes e somavam R$ 21,92 bilhões em setembro de 2022.
Em dezembro de 2017, os credores aprovaram o plano de recuperação judicial, que reduziu os passivos em 40% por meio da conversão das dívidas em participação acionária na companhia.
Em setembro de 2020, a Assembleia Geral de Credores aprovou a inclusão da venda de ativos da Oi no plano de recuperação judicial. Em dezembro do mesmo ano, a venda da Oi Móvel, subsidiária de telefonia celular, gerou R$ 16,5 bilhões aos credores. Os ativos foram divididos entre as operadoras Vivo (VIVT3), Tim (TIMS3) e Claro de forma a preservar a concorrência. Quem tinha menos clientes levou mais para garantir o equilíbrio entre as empresa.
A venda da Oi Móvel teve de ser analisada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pelo Cade para verificar os efeitos sobre o mercado de telecomunicações.
Em novembro de 2020, a Oi fechou um acordo com a Advocacia-Geral da União (AGU) e reduziu em 50% na dívida de R$ 14,3 bilhões de 198 multas aplicadas pela Anatel. A dívida remanescente foi parcelada em até 84 meses.
Em julho de 2021, a empresa de rede de fibra óptica criada pela Oi foi vendida a fundos de investimentos e a uma empresa de cabos submarinos por R$ 12,92 bilhões. Em agosto deste ano, a Oi vendeu cerca de 8 mil torres de telefonia fixa por R$ 1,697 bilhão.
Como surgiu a Oi?
A Oi nasceu em 1998, com operação em 64% do país, como parte da privatização do sistema Telebrás. A estatal acabou sendo dividida em companhias. Uma delas, a Tele Norte Leste, que passou a se chamar Telemar.
A Telemar foi adquirida por um consórcio no valor de R$ 3,4 bilhões, que foi financiado por fundos de pensão e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). Com isso, o BNDES e os fundos de pensão se tornaram, ao mesmo tempo, acionistas e credores da Oi.
Com a aquisição, o consórcio passou a fazer a ampliação da empresa, a comprar outras companhias para aumentar a atuação da operadora. Porém, muitas dessas empresas possuíam dívidas, o que acabou elevando o endividamento da Telemar.
Em 2002, a Telemar passou a fazer investimentos na telefonia móvel e começou a operar com a marca Oi e, em 2007, ela passou a ser usada em todos os seus produtos. Com isso, a marca Telemar foi extinta e a Oi passou a concentrar todos os negócios.
Para ela ser criada, foram feitas uma série de investimentos na empresa. O Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa Econômica realizaram aportes nas ações do grupo na época. Em 2008, a companhia lançou o serviço de telefonia móvel no estado de São Paulo e, em 2009, comprou a Brasil Telecom, formando uma companhia com atuação nacional, assumindo o controle em 2010, e passando a atuar em todo o território brasileiro.
Depois de um processo de reestruturação societária, em 2012, a companhia teve, pela primeira vez, ações da Oi S.A. negociadas na bolsa de São Paulo e na bolsa de Nova York.
















