Em um mercado dinâmico e incerto, empresas têm recorrido a uma nova configuração de liderança: a contratação temporária de executivos e profissionais de alto escalão. O modelo, já consolidado em países como Estados Unidos e Reino Unido, ganha força no Brasil à medida que negócios enfrentam desafios como fusões, expansão internacional, mudança cultural e corte de custos.
Essa nova modalidade não se restringe a cargos operacionais. CEOs, CFOs, diretores de RH e COOs estão sendo alocados por tempo determinado com uma missão clara: executar projetos estratégicos com agilidade, isenção política e foco em resultados.
É o caso de Roberto Daniel, engenheiro e ex-executivo de grandes multinacionais, que desde 2022 passou a atuar como “COO as a service”. Ele encerrou sua consultoria tradicional e estruturou um novo modelo de trabalho, oferecendo sua experiência como executivo para empresas que precisam de apoio em momentos críticos.
“A oportunidade surgiu a partir de um projeto anterior. O CEO da empresa conhecia meu trabalho e me chamou para liderar a operação como COO por oito meses. Foi uma experiência surpreendentemente positiva”, conta Roberto.
Apesar de não ter vínculo empregatício formal, Roberto assumiu responsabilidades similares às de um executivo contratado em regime permanente, com foco em excelência operacional e otimização de custos. “A principal vantagem é a autonomia. Por outro lado, como não sou um funcionário full time, há casos em que certos gestores questionam a autoridade — há uma resistência velada, que precisa ser administrada com diplomacia”, diz.
Para as empresas, a grande vantagem desse modelo é a agilidade na contratação e a flexibilidade para ajustar o escopo do trabalho conforme as necessidades evoluem. A Assigna, do Talenses Group, é um exemplo dessa tendência. Especializada no recrutamento de profissionais terceiros e temporários, a empresa tem ajudado organizações a contar com profissionais qualificados, por tempo determinado, para lidar com projetos estratégicos. A contratação de executivos temporários está crescendo em setores como finanças, tecnologia e recursos humanos. “Temos visto uma alta demanda por profissionais tributários e financeiros, principalmente em função da reforma tributária. A área de tecnologia também tem solicitado profissionais seniores para a definição e implantação de novos sistemas. E, em tempos de fusões de empresas, temos colocado executivos especializados na gestão da mudança cultural”, comenta Isis Borge, sócia-diretora da Assigna.
Ela também destaca a alta especialização que os executivos trazem para os projetos temporários. “Esses profissionais vêm com vasta experiência e, muitas vezes, já viveram situações similares em suas carreiras. Isso permite que eles mobilizem equipes rapidamente e atinjam os objetivos do projeto com maior eficiência”, explica.
Além disso, a Assigna conta com uma taxa de 70% de efetivação dos executivos após o término do projeto, um indicativo de que muitas dessas alocações resultam em contratações permanentes ou em novos desafios dentro das empresas.
Contratação de executivos e segurança jurídica
A legislação brasileira tem acompanhado o crescimento desse modelo de trabalho. A Lei nº 6.019/1974, que regulamenta o trabalho temporário, foi atualizada pela Lei nº 13.429/2017, permitindo uma maior flexibilidade para as empresas e garantindo maior segurança jurídica. A Reforma Trabalhista de 2017 complementou as mudanças, permitindo, inclusive, a terceirização de atividades-fim das empresas, tornando o trabalho temporário ainda mais viável no contexto corporativo atual.
Essa legislação, aliada ao apoio de consultorias especializadas, tem garantido que as empresas possam contar com o melhor talento disponível, enquanto mantêm a agilidade necessária para se adaptarem a um mercado em constante transformação.
Mudança de percepção sobre contratações temporárias
Embora a tendência de contratar executivos temporários para posições de alto escalão esteja crescendo, o mercado de trabalho brasileiro ainda se acostuma com essa ideia. Culturalmente, cargos temporários são mais comuns em funções operacionais ou de entrada, o que pode gerar resistência a profissionais de maior experiência que veem essa modalidade como algo desvinculado de um crescimento contínuo na carreira.
Roberto Daniel, executivo que atua como COO temporário defende que o modelo de trabalho temporário para altos executivos não representa um rebaixamento de status, como muitos podem imaginar. Para ele, “estar numa posição temporária não significa demérito. O profissional precisa ter histórico comprovado, clareza sobre seu escopo e saber negociar o grau de autonomia antes de assumir o desafio.”
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