O mercado financeiro inicia esta quinta-feira (18) em modo de atenção máxima, diante de uma combinação rara de eventos capazes de redefinir a precificação de juros e ativos no curto prazo. No exterior, os investidores acompanham a divulgação do CPI de novembro nos Estados Unidos e as decisões de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE).
No Brasil, o foco recai sobre o Relatório de Política Monetária (RPM) e a entrevista do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, marcada para as 11h.
Além da agenda carregada, o pano de fundo doméstico segue sendo a deterioração da previsibilidade política e fiscal, com o mercado já incorporando, nos preços, os ruídos em torno do Orçamento de 2026 e das incertezas eleitorais.
Fiscal entra no centro da precificação
Em Brasília, o mercado tenta precificar a troca de prioridades do governo para destravar o Orçamento de 2026. O avanço da proposta de Dosimetria no Congresso ocorre em paralelo ao destravamento de um projeto que prevê corte de 10% em benefícios fiscais e aumento de tributação em pontos sensíveis da economia, como Juros sobre Capital Próprio (JCP), fintechs e o setor de apostas.
A leitura entre agentes é de que a medida melhora a aritmética fiscal no curto prazo, mas aumenta o custo político e o risco de judicialização. Para o mercado, o impacto não é apenas contábil. A elevação da tributação sobre o JCP afeta diretamente empresas pagadoras de proventos, especialmente bancos, ao reduzir a atratividade dos dividendos e exigir maior prêmio de risco na precificação das ações.
O resultado é um ambiente de maior instabilidade justamente em um momento em que investidores buscavam sinais de previsibilidade para o encerramento do ano.
Eleição de 2026 muda o eixo do “trade”
O risco político voltou a ganhar protagonismo após o impacto de pesquisas recentes no mercado. A percepção de perda de convicção no chamado “trade Tarcísio” levou investidores a reabrirem posições de proteção, movimento que se reflete tanto no câmbio quanto na curva de juros.
A avaliação predominante é que a fragmentação do campo da direita aumenta a probabilidade de continuidade do atual arranjo político, o que eleva o prêmio de risco associado aos ativos brasileiros. Esse reposicionamento ajuda a explicar a pressão recente sobre o dólar e a abertura da parte longa da curva de juros.
RPM e Galípolo no centro das atenções
No ambiente doméstico, o principal evento do dia é a divulgação do Relatório de Política Monetária, às 8h, seguida da entrevista do presidente do Banco Central. O mercado buscará sinais claros sobre três pontos centrais: as projeções de inflação no horizonte relevante, o diagnóstico sobre o ritmo da atividade econômica e o balanço de riscos apresentado pela autoridade monetária.
Uma eventual revisão para baixo das projeções de IPCA poderia reanimar a discussão sobre um corte antecipado da Selic, enquanto uma leitura mais cautelosa tende a reforçar a expectativa de manutenção por mais tempo. Desde 2025, o antigo Relatório de Inflação passou a se chamar Relatório de Política Monetária, mas o documento segue sendo um dos principais guias para a comunicação do Banco Central.
Exterior define o tom do dia
No cenário internacional, o CPI de novembro nos Estados Unidos, divulgado às 10h30, é o dado mais aguardado. O número tem potencial para alterar a precificação de juros americanos e, por consequência, o apetite global por risco, afetando bolsas, moedas emergentes e commodities.
Na Europa, a expectativa é de manutenção dos juros pelo BCE, com atenção total ao tom da comunicação e às sinalizações para 2026. Já o Banco da Inglaterra tende a avançar no ciclo de cortes, e o mercado avaliará tanto o placar da decisão quanto o discurso da autoridade monetária.













