A discussão sobre o cenário eleitoral de 2026 já começa a produzir efeitos no mercado financeiro brasileiro, ainda que, na avaliação de especialistas, seja cedo para qualquer precificação estrutural.
Em entrevista à BM&C News, o CIO da MSX, Marco Saravalle destacou que os movimentos recentes do Ibovespa e do câmbio revelam mais sobre o grau de ansiedade dos investidores do que sobre um cenário definido para o próximo ciclo político.
Mercado deu o tom para 2026
Segundo Saravalle, a forte oscilação registrada após episódios de ruído político na última semana serviu como um alerta. Para ele, apesar do impacto pontual, o mercado reagiu de forma relativamente contida nos dias seguintes, o que reforça a leitura de que ainda não há consenso nem clareza sobre os desdobramentos eleitorais.
“Sexta-feira deixou um recado importante: 2026 não vai ser fácil”, afirmou.
Mercado ainda não chegou a 2026
Na avaliação do estrategista, falar em precificação eleitoral com um ano de antecedência é prematuro. “Para mim, 2026 ainda não chegou”, disse Saravalle, ao lembrar que o histórico do mercado brasileiro mostra que movimentos mais consistentes costumam ocorrer apenas quando o calendário eleitoral se aproxima de forma mais concreta.
Ele ressaltou que o noticiário político atual ainda é marcado por indefinições, mudanças de posição e especulações.
“É muito cedo para essa discussão. Os nomes ainda estão sendo testados, voltam atrás, aparecem e somem. Não tem nada definido. Se estivéssemos em março ou abril do ano que vem, com pesquisas mais claras, faria sentido. Agora, é preparação, não decisão.”, avaliou.
Volatilidade como traço central do cenário
Embora considere cedo para cravar tendências, o estrategista alerta que o episódio recente mostrou como o mercado brasileiro segue sensível a choques políticos. O Ibovespa chegou a recuar cerca de 7 mil pontos em um único dia, enquanto o câmbio apresentou forte oscilação.
“O real quase voltou para R$ 5,50 em um dia. Isso nos lembra que estamos no Brasil, na América Latina, com volatilidade, especulação e movimentos rápidos”, afirmou.
Saravalle também fez uma crítica indireta à condução da política monetária, ao mencionar que o Banco Central precisará explicar a dinâmica cambial recente em suas comunicações oficiais. Para ele, episódios como esse reforçam a necessidade de cautela por parte dos investidores.
Investidor local sente mais o impacto
Outro ponto destacado foi a diferença de comportamento entre investidores locais e estrangeiros. Segundo Saravalle, boa parte da volatilidade recente foi puxada por agentes domésticos, mais sensíveis ao noticiário político.
“Quem sente mais somos nós, os locais. O investidor estrangeiro continuou comprando, via outras alocações”, disse.
Para ele, isso mostra que o Brasil ainda está no radar internacional, mas com leitura diferente da feita internamente.
Essa assimetria, na avaliação do estrategista, tende a se repetir ao longo do próximo ano, especialmente em momentos de maior ruído político ou divulgação de pesquisas eleitorais.
Preparação, não antecipação
Ao olhar para frente, Saravalle evita tanto o otimismo quanto o pessimismo excessivo. Para ele, o principal traço do mercado em 2026 deve ser a incerteza. O estrategista reforça que movimentos abruptos podem voltar a ocorrer, especialmente em datas pontuais.
“Não é um cenário de queda, nem de alta. É um cenário de volatilidade. Vamos ver outras sextas-feiras como aquela. Isso tende a se repetir ao longo de 2026.”, afirmou.
Diante desse ambiente, a recomendação implícita é de preparo técnico e emocional.
“Tudo está muito aberto. É cedo para definir cenários, mas é cedo também para ignorar os sinais“, conclui.












