A economia brasileira mantém um ritmo de crescimento modesto em 2025. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manteve a projeção de alta de 2,3% para o Produto Interno Bruto (PIB), mas o avanço ocorre com cada vez menos contribuição da indústria. Enquanto o setor de serviços e a agropecuária sustentam o desempenho positivo, a indústria de transformação registra forte desaceleração e se torna o elo mais fraco da atividade produtiva.
Segundo o Informe Conjuntural do terceiro trimestre, a indústria enfrenta juros elevados, aumento expressivo das importações e queda das exportações, especialmente para os Estados Unidos. Esse cenário de pressão externa e restrição interna expõe a fragilidade da base industrial brasileira e compromete a retomada do investimento produtivo, elemento essencial para o crescimento sustentável.
Por que a indústria está crescendo menos?
O principal obstáculo apontado pela CNI é o patamar de juros em 15% ao ano, o mais alto desde 2006. A política monetária contracionista, mantida pelo Banco Central, reduz o apetite por crédito e encarece o custo de capital para empresas e consumidores. Com isso, a taxa de investimento, que havia crescido 7,3% em 2024, deve avançar apenas 3% em 2025.
Além disso, a forte entrada de importados tem capturado parte da demanda interna por bens industriais. O volume importado de bens de consumo subiu 17,9% até setembro, ao passo que as exportações da indústria de transformação para os Estados Unidos caíram mais de 20% após as novas tarifas americanas. Esse desvio de comércio desloca a produção nacional e amplia a dependência de produtos estrangeiros.
Setores da indústria em direções opostas
Enquanto a indústria de transformação e a construção perdem ritmo, a indústria extrativa se destaca com crescimento de 6,2% impulsionada pelo aumento da produção de petróleo. Já o setor da construção, sensível ao crédito, foi revisado de 2,2% para 1,9%, refletindo a queda nas vendas de materiais e a redução do número de trabalhadores ocupados. A falta de confiança dos empresários e a retração do consumo também contribuem para esse cenário desafiador.
Por outro lado, a agropecuária apresenta safra recorde de 341,9 milhões de toneladas, alta de 16,8% em relação a 2024. O setor de serviços, apoiado pelo mercado de trabalho aquecido e pela digitalização da economia, mantém crescimento de 2%, sustentando parte importante do dinamismo econômico.
Impacto da política monetária e do crédito
A inflação segue em desaceleração e deve encerrar o ano em 4,8%, acima do teto da meta de 4,5%. Apesar disso, o Banco Central não sinaliza cortes na Selic. A taxa real de juros deve fechar 2025 em 10,3% ao ano, o que reforça o caráter restritivo da política monetária. As concessões de crédito devem crescer apenas 5,5%, quase metade do observado no ano anterior, refletindo a dificuldade de financiamento para empresas e famílias.
Esse ambiente limita a capacidade de expansão da indústria, reduz margens e freia o consumo. As empresas enfrentam custos financeiros mais altos, e os consumidores, menor poder de compra. Nesse sentido, o equilíbrio entre controle inflacionário e estímulo à produção se torna um dos maiores desafios da política econômica de 2025.
Como o governo pode reverter o quadro?
O setor público também enfrenta restrições. A CNI projeta que o resultado primário do governo federal fechará o ano com déficit de 0,5% do PIB, e a dívida bruta deve subir para 78,4%. Embora as despesas tenham acelerado no segundo semestre, com pagamento de precatórios e aumento de gastos discricionários, o impulso fiscal é menor do que o de 2024. Isso limita o espaço para políticas anticíclicas que poderiam reanimar a indústria.
O mercado de trabalho, entretanto, continua sendo um ponto de resiliência. O número de ocupados cresce 1,8% e a massa de rendimento real, 5,4%, sustentando o consumo das famílias, que deve aumentar 2,3%. Ainda assim, o ritmo é inferior ao do ano passado, evidenciando que o motor do crescimento está se deslocando para setores menos sensíveis ao crédito e mais ligados aos serviços e ao agronegócio.
Principais projeções para 2025
- PIB total: 2,3%
- PIB da indústria: 1,6%
- Indústria de transformação: 0,7%
- Construção: 1,9%
- Indústria extrativa: 6,2%
- Serviços: 2,0%
- Agropecuária: 8,3%
- Inflação (IPCA): 4,8%
- Selic: 15,0% a.a.
- Investimento: 3,0%
O panorama de 2025 revela uma economia em desaceleração com a indústria como elo mais vulnerável do crescimento. Apesar do bom desempenho do agronegócio e dos serviços, a recuperação industrial depende de medidas que reduzam o custo do capital, estimulem a produtividade e fortaleçam a competitividade frente ao aumento das importações. A retomada do dinamismo produtivo é essencial para sustentar um crescimento mais equilibrado nos próximos anos.