A retórica adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação à Venezuela tem gerado questionamentos sobre a possibilidade de um conflito militar na América do Sul. No entanto, na avaliação do professor de Relações Internacionais, Marcus Vinicius de Freitas, o risco de uma guerra efetiva é baixo e está mais associado a estratégias de pressão política, econômica e geopolítica do que a uma intenção concreta de intervenção armada.
Segundo o especialista, uma ação militar direta contra a Venezuela enfrentaria obstáculos operacionais relevantes.
“O número de militares destacados não seria suficiente para uma ação efetiva em terra, considerando a extensão do território e da costa venezuelana”, afirmou.
Ele avalia que, no cenário mais extremo, qualquer ofensiva teria caráter pontual e aéreo, o que traria forte repercussão negativa tanto na América Latina quanto na comunidade internacional.
EUA e Venezuela: Maduro não tem apoio regional, mas intervenção é rejeitada
Freitas destaca que o governo de Nicolás Maduro não conta com apoio político relevante na região, mas isso não significa aval para uma intervenção externa.
“Existe uma contrariedade generalizada a qualquer tipo de intervenção militar, ainda que não haja apoio efetivo ao governo Maduro, em razão dos resultados observados na Venezuela”, explicou.
Para o professor, a principal estratégia de Washington tem sido o aumento da pressão econômica, com o objetivo de estimular reações internas contra o regime venezuelano. No entanto, ele pondera que esse tipo de tática tem histórico limitado de sucesso.
“Se sanções funcionassem de forma automática, Cuba não teria permanecido sob o controle da família Castro por tanto tempo”, observou.
Mensagem geopolítica para Rússia e China
Além da dimensão regional, Freitas aponta que o discurso de Trump se insere em um contexto mais amplo de mensagens geopolíticas globais. A retórica serve também como sinalização para Rússia e China, países que mantêm relações estratégicas com Caracas.
“Há uma tentativa clara de Washington de reforçar a ideia de que a América é para os americanos e de desencorajar a presença de potências externas na região”, disse.
Outro fator considerado improvável é o impacto político doméstico de um conflito. Segundo o professor, Trump dificilmente encerraria um ciclo político marcado por discursos sobre crescimento econômico e resultados positivos com o início de uma guerra na América do Sul.
“Qualquer baixa de soldados americanos mudaria rapidamente a opinião pública nos Estados Unidos, que tende a ser contrária a esse tipo de envolvimento”, avaliou.
Incertezas sobre a capacidade militar da Venezuela
Freitas também ressalta que há incertezas sobre a capacidade militar efetiva da Venezuela, além da presença de milícias e da aquisição de equipamentos de países como China, Rússia, Irã e Coreia do Norte, o que ampliaria os riscos de uma escalada imprevisível.
Na avaliação final do especialista, o cenário aponta para a continuidade de um jogo de pressão diplomática, econômica e simbólica, sem disposição real para um confronto armado.
“A impressão é de que se trata mais de um mecanismo de pressão e de envio de mensagens estratégicas do que de uma intenção concreta de guerra”, concluiu.

