A partir de 1º de agosto, entra em vigor nos Estados Unidos uma nova tarifa de 50% sobre as importações do Brasil, provocando um impacto significativo nos mercados globais. A medida, que afeta principalmente setores como alimentos e recursos naturais, lembra a controversa Lei Smoot-Hawley, de 1930, um marco no protecionismo comercial global. Naquela época, a imposição de tarifas elevadas pelos EUA contribuiu para o agravamento da Grande Depressão, uma crise econômica que afetou o mundo inteiro, e as consequências dessa política ainda são debatidas até hoje.
A Lei Smoot-Hawley, aprovada durante a presidência de Herbert Hoover, elevou as tarifas de importação de cerca de 900 produtos entre 40% e 60%. Seu objetivo era proteger os produtores americanos, especialmente os agricultores, que enfrentavam dificuldades devido à recuperação lenta após a Primeira Guerra Mundial. Contudo, a medida teve efeitos desastrosos: a queda no comércio internacional e a retração econômica mundial foram intensificadas, exacerbando a Grande Depressão e contribuindo para o desemprego massivo.
Quais lições podemos tirar da Lei Smoot-Hawley?
A semelhança entre as tarifas que entram em vigor em agosto e a Lei Smoot-Hawley é notável. Ambas as medidas visam proteger indústrias locais, mas em detrimento de um comércio internacional fluido. Durante a década de 1930, o aumento das tarifas americanas provocou uma série de reações em cadeia, com países como Canadá e nações europeias impondo tarifas retaliatórias sobre produtos dos EUA. O comércio global caiu cerca de 65%, o que agravou ainda mais a crise econômica.
Atualmente, o governo dos EUA, sob a presidência de Donald Trump, também enfrenta críticas pela adoção de uma política tarifária agressiva, que afeta não só empresas estrangeiras, mas também consumidores americanos. Estudos acadêmicos indicam que as tarifas aumentaram os preços para as famílias, sem proporcionar o retorno esperado em termos de receita tributária. A Seção 338 da Lei de Comércio de 1930 está sendo usada como base legal para justificar essa política, ampliando ainda mais o leque de justificativas possíveis, como práticas comerciais discriminatórias contra os EUA.
O que esperar das tarifas de 50%?
Se por um lado a tarifa de 50% sobre importações brasileiras poderia ser justificada sob a ótica do protecionismo, o que se observa são sérias preocupações sobre os impactos econômicos. A Seção 338, que autoriza a imposição de tarifas adicionais para proteger a economia nacional, será provavelmente a base para essa nova medida, embora ela não tenha sido utilizada por presidentes americanos em décadas anteriores. Isso lembra os tempos da Lei Smoot-Hawley, que também foi justificada por preocupações internas, mas resultou em uma crise global.
Especialistas já alertam para os efeitos negativos que essa política pode ter sobre o comércio bilateral entre os EUA e o Brasil. Mesmo que o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, tenha sugerido a isenção de produtos como café e cacau, o risco de uma reação em cadeia é iminente. A Europa e outros países podem adotar medidas retaliatórias, assim como ocorreu na década de 1930, quando as tarifas americanas prejudicaram a competitividade global dos produtos dos EUA.
- 1930: Lei Smoot-Hawley aumenta tarifas de importação em 40% a 60%, agravando a Grande Depressão.
- 2025: Tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre as importações do Brasil, com foco em produtos agrícolas e recursos naturais.
- 1930: Aumento do nacionalismo e protecionismo, levando a quedas acentuadas no comércio global.
- 2025: Possíveis consequências inflacionárias e redução no poder de compra de consumidores americanos e brasileiros.
Será que as tarifas vão repetir os erros do passado?
Enquanto isso, é importante refletir sobre a história e as lições que ela oferece. A adoção de políticas de proteção, embora promova benefícios a curto prazo para alguns setores, pode ter um efeito oposto quando vista sob uma perspectiva global. Durante a Grande Depressão, a implementação de tarifas levou a uma retração econômica mundial e a um isolamento crescente, que culminou na Segunda Guerra Mundial. As tarifas atuais, se mal geridas, podem repetir esse ciclo de isolamento econômico e de instabilidade comercial, prejudicando tanto os EUA quanto seus parceiros comerciais.
A história nos ensina que o protecionismo não é uma solução sustentável para as questões econômicas de um país. O mundo está cada vez mais interconectado, e as medidas isolacionistas podem prejudicar o crescimento de economias globais interdependentes. As tarifas de 50% são um sinal claro de que a política econômica dos EUA está retrocedendo para o nacionalismo econômico do início do século 20. No entanto, os efeitos dessa política ainda estão por ser totalmente compreendidos.
Por fim, enquanto o governo de Trump tenta justificar as tarifas sob novas bases legais como a Seção 338, a economia global e os empresários americanos precisam estar atentos às lições do passado para evitar um novo retrocesso, desta vez sem as grandes consequências da Segunda Guerra Mundial, mas com impactos econômicos significativos para todos os envolvidos.