A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nesta segunda-feira (1) um levantamento inédito que mostra a forte queda na confiança das indústrias exportadoras brasileiras. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu de 50,2 pontos em junho para 45,6 pontos em agosto, retração de 4,6 pontos em dois meses. O resultado representa a mudança de um cenário de otimismo para um quadro de pessimismo entre os empresários do setor.
O ICEI varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima de 50 indicam confiança, enquanto números abaixo dessa marca sinalizam falta de confiança. Quanto maior a distância da linha divisória, mais intensa é a percepção do empresariado. A queda recente foi atribuída, sobretudo, ao impacto do aumento das tarifas de importação aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
CNI: O que explica a queda na confiança dos exportadores?
De acordo com a CNI, a piora no sentimento das empresas exportadoras começou em julho, quando o índice recuou 1,7 ponto. Com a entrada em vigor das tarifas americanas no mês seguinte, a confiança sofreu novo baque, caindo 2,9 pontos em agosto. O resultado reflete a combinação entre a pressão externa e o ambiente econômico interno de juros elevados.
Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI, explica que as exportadoras vinham sustentando maior otimismo em relação às empresas focadas apenas no mercado doméstico. “As taxas de juros elevadas penalizam o consumo dentro do país. Mas as empresas exportadoras, com a opção de vender para o exterior, contornavam a queda da demanda no mercado interno e, por isso, mostravam confiança superior à média da indústria”, afirmou.
O papel das expectativas no resultado, segundo CNI
O ICEI é formado por dois componentes, as condições atuais e as expectativas. A queda mais expressiva veio do Índice de Expectativas, que mede a percepção sobre a economia e os negócios nos próximos seis meses. Esse indicador passou de 52,2 pontos em junho para 47,2 pontos em agosto, recuo de 5 pontos. Ou seja, a incerteza em relação ao futuro foi determinante para a reversão do otimismo.
Esse resultado mostra que, além da perda de confiança imediata, há também um temor de que os efeitos do tarifaço se prolonguem e prejudiquem a competitividade das empresas brasileiras em mercados externos estratégicos. Nesse sentido, a queda das expectativas reforça o cenário de cautela.
Exportadores agora têm confiança menor que a média da indústria?
Tradicionalmente, os exportadores costumam apresentar índices de confiança superiores à média da indústria, justamente por contarem com a alternativa de vender para o mercado internacional. No entanto, a imposição das tarifas pelos Estados Unidos alterou essa lógica. Em agosto, o ICEI dos exportadores (45,6 pontos) ficou abaixo do ICEI geral da indústria (46,1 pontos).
O ICEI geral, que mede a confiança de todos os segmentos industriais, permanece em patamar negativo há oito meses consecutivos. Isso indica que, mesmo sem as barreiras adicionais, a indústria brasileira já vinha enfrentando dificuldades em manter otimismo diante de juros elevados e incertezas políticas.
Quais são as perspectivas para os próximos meses?
A continuidade do cenário dependerá de dois fatores principais, a condução da política comercial internacional e a evolução da política monetária no Brasil. Por um lado, se não houver reversão ou flexibilização do tarifaço americano, os exportadores tendem a conviver com margens menores e competitividade reduzida. Por outro lado, o ciclo de juros no mercado doméstico também será determinante para aliviar custos financeiros e estimular novos investimentos.
Enquanto isso, a CNI alerta que a queda na confiança deve servir de sinal de alerta para as autoridades econômicas. A capacidade de reação da indústria dependerá de medidas que reduzam a incerteza e ampliem a previsibilidade para os empresários.
O levantamento da CNI evidencia como a conjuntura internacional, em especial o tarifaço dos Estados Unidos, afeta de forma imediata a confiança dos exportadores brasileiros. A queda de 4,6 pontos no ICEI em dois meses reflete a vulnerabilidade da indústria frente às decisões externas e reforça a importância de políticas que fortaleçam a competitividade nacional. Ao mesmo tempo, a retração das expectativas mostra que os empresários estão atentos não apenas ao presente, mas também às incertezas do futuro próximo.