O Smart Money desta semana recebeu o fundador da Scal, Dr. Élder Montenegro, para discutir como a healthtech pode ganhar tração comercial mantendo o diferencial de usabilidade. A plataforma nasceu dentro de uma rede franqueada de clínicas, atendendo primeiro fisioterapeutas, e evoluiu para outras especialidades com agenda integrada, CRM de leads e ferramentas de cobrança. Nesse sentido, a conversa com João Kepler e os conselheiros Gabriel Lopes e Mateus Beirão focou em caminhos práticos para escalar o negócio sem perder eficiência operacional.
Segundo Montenegro, a principal dor que a Scal resolve é a falta de integração e de dados no dia a dia de clínicas e consultórios. Além disso, a empresa incorporou inteligência artificial para agendamento por voz e texto, integração com meios de pagamento e gestão de leads de tráfego pago. Por outro lado, o fundador reconheceu que o gargalo atual está na máquina comercial, não no produto: os leads chegam, mas a conversão e a escala de vendas ainda dependem de uma estratégia mais assertiva e de execução contínua.
O que a Scal entrega hoje:
Construída com ênfase em usabilidade, a plataforma reúne agenda multi-profissional com sinalização visual de presença/faltas, funil de leads integrado a campanhas, cobrança e reconciliação financeira. Enquanto isso, o módulo de IA para marcação tem sido destaque, atendendo picos de demanda fora do horário de secretaria (antes das 9h, depois das 17h e fins de semana) e reduzindo fricções na jornada do paciente. O onboarding costuma levar cerca de uma hora e, em muitos casos, os usuários passam a operar o aplicativo de forma intuitiva.
Principais números apresentados pela Scal:
- Base atual: ~700 CNPJs/clientes e cerca de 30 mil usuários ativos.
- Modelo de receita: assinatura mensal por usuário (~R$ 49–50); ticket médio aproximado de R$ 187 por clínica (4–5 assinaturas).
- CAC: em torno de R$ 250; LTV reportado de 11,8.
- Churn/tempo médio: permanência típica de 11–12 meses, com redução do churn conforme a empresa migra foco para segmentos médicos e amplia valor percebido (ex.: IA de agendamento).
- Resultados: faturamento mensal de ~R$ 140 mil vs. custos de ~R$ 80 mil; operação “no azul” desde 2022.
Como a Scal deve se posicionar para escalar?
Para João Kepler, um passo essencial é “descolar” a Scal da rede de clínicas e posicioná-la claramente como startup independente de tecnologia em saúde. Além disso, Gabriel Lopes sugeriu explorar media for equity e a chancela de influenciadores que dialoguem com donos de clínicas, ampliando awareness e confiança. Nesse sentido, a autoridade pública do próprio fundador pode ser um ativo para conteúdos educacionais que convertam o público B2B.
Scal: marketing e vendas sob o mesmo teto
Mateus Beirão foi direto: terceirizar o coração da aquisição pode tornar a empresa refém de agências. A recomendação é montar time interno integrado de marketing e comercial para controlar volume, qualidade e tratamento de leads. Por outro lado, com ticket e LTV conhecidos, é possível calibrar investimento: se hoje o gasto em mídia gira em ~10% do que o cliente deixa ao longo do ciclo, ele sugere testar patamares de até 30%, desde que haja governança de CAC/LTV e metas de retenção bem definidas.
Produto que ajuda o cliente a vender: por que isso importa?
Um ponto de convergência entre os conselheiros foi transformar a proposta de valor: não apenas “software para gestão”, mas “software que traz paciente para a clínica”. Nesse sentido, integrar serviços que gerem demanda, como trilhas de tráfego e conteúdo, páginas de captação, automações e o agendamento por IA, aumenta o valor percebido e reduz churn. Enquanto isso, manter o foco inegociável em usabilidade preserva a vantagem competitiva perante profissionais de saúde avessos à complexidade.
Quais alavancas priorizar nos próximos trimestres?
- Posicionamento: apresentar a Scal como healthtech independente, com narrativa clara para clínicas multiespecialidade.
- Time interno: formar um “squad” de growth (conteúdo + performance + vendas) com rituais, metas e SLA de atendimento a leads.
- Oferta estendida: empacotar “aquisição de pacientes” (orgânico e pago) como módulo/serviço complementar plugado à plataforma.
- Educação B2B: usar a autoridade do fundador em conteúdos sobre “gestão de clínicas na prática” para gerar demanda qualificada.
- Retenção: expandir casos de uso da IA de agendamento e reforçar o valor financeiro (no-show menor, conversão maior, caixa previsível).
O risco clássico em healthtechs de gestão é perder simplicidade ao adicionar funcionalidades. Por outro lado, a trajetória da Scal mostrou que produtividade e adoção dependem de fluxos enxutos e visuais claros. Nesse sentido, a disciplina de produto, com feedbacks rápidos da base, metas de ativação e uso recorrente, deve andar em paralelo à aceleração comercial. Enquanto isso, manter métricas de qualidade (tempo de implantação, NPS, taxa de uso do agendamento por IA) ajuda a garantir que a corrida por escala não dilua a experiência que cativou os primeiros 700 clientes.