À medida que o mercado começa a olhar com mais atenção para 2026, uma conclusão se impõe: o risco fiscal deixou de ser um debate abstrato e passou a influenciar diretamente a precificação dos ativos. Para Ermínio Lucci, CEO da BGC Liquidez, o Brasil entra no próximo ciclo eleitoral com um problema fiscal estrutural que precisará ser endereçado de forma inevitável a partir de 2027.
“O desajuste fiscal vai ter que ser enfrentado por quem assumir a Presidência. Se não for, o resultado é conhecido: mais inflação, juros mais altos, câmbio desvalorizado e um ambiente macroeconômico volátil”, afirmou.
Fiscal no radar: um ano volátil, mas resiliente
Lucci avalia que 2025 foi marcado por elevada volatilidade, especialmente no primeiro semestre, quando o mercado global reagiu a ameaças tarifárias vindas dos Estados Unidos. Apesar disso, o cenário mais pessimista, de desaceleração forte e deterioração generalizada dos ativos, não se concretizou.
“A resiliência da economia global foi clara”, disse.
Bolsas americanas, europeias e o próprio mercado brasileiro registraram ganhos expressivos ao longo do ano, com o Ibovespa encerrando o período com alta superior a 20% em reais.
Ambiente institucional pesa no cenário doméstico
No plano interno, no entanto, o CEO da BGC Liquidez chama atenção para a deterioração do ambiente institucional ao longo do ano. O embate entre os Poderes, especialmente entre Legislativo, Executivo e Judiciário, elevou o nível de incerteza e reforçou a percepção de risco.
“Houve uma piora no ambiente institucional, com questionamentos sobre o protagonismo do Judiciário e um cabo de guerra permanente com o Legislativo”, avaliou.
Fiscal como variável central para 2026
Para Lucci, o fiscal se consolidou como a principal variável de risco para o Brasil. O mercado já entende que a trajetória atual não é sustentável no longo prazo e que o ajuste não pode mais ser adiado.
“O tema fiscal não é ideológico. É matemático”, resumiu.
Segundo ele, a ausência de um ajuste claro tende a pressionar a inflação, manter juros elevados e afetar diretamente o crescimento econômico.
Cenário internacional adiciona complexidade
No cenário externo, o executivo destaca incertezas relevantes para 2026, como a condução da política monetária nos Estados Unidos. A sucessão no comando do Federal Reserve e a possibilidade de uma atuação mais politizada da autoridade monetária entram no radar dos investidores.
“A grande dúvida é como o Fed vai reagir se a inflação americana permanecer acima de 3%”, disse.
Um Fed mais restritivo pode penalizar mercados acionários, enquanto cortes de juros em um ambiente inflacionário poderiam levantar dúvidas sobre a credibilidade da política monetária americana.
Eleição de 2026 define o rumo econômico
Para o Brasil, Lucci é direto: não existe agenda mais relevante do que a eleição presidencial de 2026. O pleito definirá se o país seguirá por um caminho de maior responsabilidade fiscal ou se manterá uma gestão expansionista, com aumento do tamanho do Estado.
“O mercado espera uma gestão mais rígida, com controle de custos e corte de gastos. É isso que funciona no longo prazo”, afirmou.
Na avaliação do CEO da BGC Liquidez, o mercado já começou a antecipar esse debate. Ignorar o fiscal deixou de ser uma opção, e os preços dos ativos refletem essa realidade.














