O Federal Reserve anunciou nesta quarta-feira (29) a redução da taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, levando a faixa dos Fed Funds para entre 3,75% e 4%. A decisão foi tomada após o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) avaliar uma desaceleração no ritmo de criação de empregos e um leve aumento na taxa de desemprego, que, apesar da alta, continua em níveis historicamente baixos.
De acordo com o comunicado divulgado às 14h (horário de Washington), o banco central americano afirmou que “a atividade econômica tem se expandido a um ritmo moderado” e que a inflação, embora tenha subido desde o início do ano, “permanece um pouco elevada”. A autoridade monetária destacou ainda que os riscos de queda no emprego aumentaram nos últimos meses, o que reforçou a necessidade de um ajuste adicional na política monetária.
Por que o Fed decidiu cortar os juros?
O FOMC justificou a redução como reflexo da “mudança no equilíbrio de riscos” entre inflação e emprego. O comitê reafirmou seu compromisso com o duplo mandato de alcançar o máximo emprego e trazer a inflação de volta à meta de 2% no longo prazo. Além disso, o Fed indicou que “a incerteza quanto às perspectivas econômicas permanece elevada”, o que exigirá uma postura mais cautelosa nas próximas decisões.
Os indicadores disponíveis sugerem que a atividade econômica tem se expandido a um ritmo moderado. A criação de empregos desacelerou este ano, e a taxa de desemprego subiu ligeiramente, mas permaneceu baixa até agosto; indicadores mais recentes corroboram esses desenvolvimentos. A inflação aumentou desde o início do ano e permanece um pouco elevada.
O Comitê busca alcançar o máximo emprego e uma inflação de 2% no longo prazo. A incerteza quanto às perspectivas econômicas permanece elevada. O Comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e considera que os riscos de queda no emprego aumentaram nos últimos meses.
O comunicado também revelou que o banco central pretende encerrar o processo de redução de suas participações em títulos (quantitative tightening) em 1º de dezembro, movimento que marca uma transição importante na política monetária após um ciclo prolongado de aperto iniciado em 2022.
O que esperar para as próximas reuniões?
O Fed informou que, ao considerar novos ajustes nos juros, “avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o equilíbrio de riscos”. Isso significa que futuras decisões dependerão dos indicadores econômicos, em especial dos dados de inflação, emprego e atividade.
O comitê reforçou que continuará monitorando “as implicações das novas informações para as perspectivas econômicas” e que está preparado para ajustar a política conforme necessário, caso surjam riscos que impeçam o cumprimento de seus objetivos.
Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o Comitê continuará monitorando as implicações das novas informações para as perspectivas econômicas. O Comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance de seus objetivos. As avaliações do Comitê levarão em consideração uma ampla gama de informações, incluindo dados sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, bem como desenvolvimentos financeiros e internacionais.
Decisão do Fed não foi unânime
A decisão não foi unânime. Dos doze integrantes votantes, dez apoiaram o corte de 0,25 ponto percentual.
Votaram a favor da redução de 25 bps:
- Jerome H. Powell
- John C. Williams
- Michael S. Barr
- Michelle W. Bowman
- Susan M. Collins
- Lisa D. Cook
- Austan D. Goolsbe
- Philip N. Jefferson
- Alberto G. Musalem
- Christopher J. Waller.
Stephen I. Miran defendeu uma redução maior, de 0,5 ponto, enquanto Jeffrey R. Schmid preferiu manter as taxas inalteradas.
Comunicado traz novas nuances
Segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o comunicado trouxe nuances importantes sobre o momento da política monetária americana. “O que chamou atenção foi a divisão dentro do comitê. Stephen Miran defendeu cortes maiores, o que mostra que há uma preocupação crescente com o ritmo de desaceleração da economia”, avaliou. Para ele, o fato de o Fed ter anunciado o fim do programa de aperto quantitativo, o chamado quantitative tightening, é outro sinal relevante de que o banco central está disposto a adotar uma postura menos restritiva.
“Ao parar de vender títulos, o Fed deixa de enxugar a liquidez do sistema, o que tende a suavizar as condições financeiras. Isso reforça a percepção de que o ciclo de política monetária entrou numa nova fase, com espaço para mais um corte até o fim do ano”, completou Alves, destacando ainda que a instituição reconheceu a dificuldade de calibrar decisões em meio à incerteza dos dados econômicos recentes.
Decisão não unânime do Fed é surpresa no mercado
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o corte de 0,25 ponto percentual pelo Federal Reserve já era amplamente esperado pelo mercado. Ele destaca, contudo, duas surpresas no comunicado. “Mais uma vez, tivemos um dirigente pedindo um corte maior, de 0,5 ponto, no caso o Stephen Miran, indicado por Trump, e outro membro defendendo a manutenção da taxa. Isso mostra uma divisão interna sobre o ritmo ideal de afrouxamento monetário”, afirmou.
Cruz também chama atenção para o fim da redução do balanço do Fed, previsto para dezembro. “O banco central vai encerrar a diminuição do seu balanço, que atingiu quase US$ 9 trilhões durante a pandemia e deve estabilizar em torno de US$ 6 trilhões, um nível ainda bem acima do pré-pandemia. Isso levanta a discussão sobre 2026: se o Fed voltará a expandir seu balanço e reduzir os juros num contexto de inflação em alta e mercado de trabalho mais fraco”, completou.
Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, o comitê deve seguir priorizando a estabilidade do mercado de trabalho ao invés do processo de convergência da inflação à meta. “Consideramos altamente provável novo corte da taxa de juros em dezembro, conforme já sinalizado pelo conjunto de projeções do FOMC. Lembramos que o histórico do comitê mostra preferência por realizar ajustes preventivos em séries de três, completando o ciclo mesmo quando as condições parecem menos urgentes na etapa final.“, destaca.
Corte do Fed pode influenciar o Brasil?
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, destacou que a desaceleração abre espaço para uma política mais branda e tende a reduzir a valorização do dólar frente a moedas emergentes, o câmbio no Brasil já se aproxima de R$ 5,30. “Esse movimento pode influenciar o Banco Central brasileiro a repensar o ritmo de cortes da Selic, hoje em 15%, uma das mais altas do mundo.“
Já para Gabriel Padula, CEO da Everblue, “a redução de 0,25 ponto percentual não muda o cenário global de forma imediata, mas envia um recado claro: o ciclo de alta chegou ao fim. Isso tende a aliviar o custo global de capital e a reduzir o prêmio de risco dos emergentes, impactando positivamente o fluxo cambial e as taxas futuras de juros no Brasil“. Com a Selic em 15% e expectativa de inflação em 4,7%, o diferencial de juros continua elevado, o que dá conforto ao Banco Central, mas também espaço para um debate mais intenso sobre cortes adicionais.