A Câmara dos Deputados deve votar nesta semana a proposta que amplia a isenção de IR para contribuintes com renda de até R$ 5.000 mensais. A medida, se aprovada, promete colocar mais dinheiro no bolso de milhões de brasileiros e pode representar um estímulo ao consumo em um momento de desafios econômicos. No entanto, especialistas alertam para os riscos associados a essa política.
O economista Vandyck Silveira ressaltou que a aprovação é praticamente inevitável, já que votar contra um benefício popular teria alto custo político. “O autointeresse e o desejo de sobrevivência política vão garantir que essa proposta passe rapidamente”, destacou. Mas a discussão vai além da política: os impactos econômicos de liberar mais renda em uma economia já aquecida precisam ser analisados com cautela.
A isenção de IR pode gerar inflação?
O ponto central do debate é se a isenção de IR terá como consequência o aumento da inflação. Segundo o economista, a economia brasileira já opera em níveis elevados de atividade, com taxa de desemprego no menor patamar em mais de 20 anos. Isso significa que, ao injetar mais dinheiro sem elevar a capacidade produtiva, a medida tende a pressionar os preços.
Ele explica que o chamado hiato do produto, diferença entre a produção efetiva e a capacidade máxima da economia, já está positivo. Ou seja, o Brasil está utilizando praticamente todo o seu potencial produtivo. Nesse cenário, elevar a demanda sem investimentos estruturais cria desequilíbrios que se traduzem em inflação.
Qual o papel dos investimentos nesse cenário?
A baixa taxa de investimento no Brasil é um dos fatores que agravam a situação. O país investe, em média, entre 16% e 17% do PIB, muito abaixo dos 25% considerados mínimos para economias emergentes. Como comparação:
- China: cerca de 35% a 40% do PIB em investimentos.
- Estados Unidos: aproximadamente 25% do PIB.
- Europa: média acima de 20% do PIB.
Sem elevar esses índices, o Brasil enfrenta limitações para sustentar o crescimento de forma saudável. “Sem contrapartida de investimentos, a isenção de IR pode apenas ampliar o consumo no curto prazo, mas empurrar a inflação para cima”, afirmou Vandyck.
O risco de repetir erros do passado
O economista lembrou que situações semelhantes já ocorreram no país, em especial entre 2014 e 2016, quando a combinação de gastos elevados e baixo investimento levou a inflação a patamares de dois dígitos. “Estamos brincando com fogo. Já vimos antes o que acontece quando se coloca muito dinheiro na economia sem planejamento”, alertou.
Além disso, ele destacou a contradição entre o discurso de reduzir a taxa de juros e a manutenção de políticas de transferência de renda e gastos públicos. Para o mercado, esse desalinhamento pode aumentar a percepção de risco e dificultar a formação de um ambiente favorável a investimentos.
Como isso afeta investidores e o crescimento futuro?
Para investidores, a discussão sobre a isenção de IR deve ser acompanhada com atenção. O risco inflacionário pode afetar diretamente a política monetária do Banco Central, exigindo juros mais altos para conter os preços. Isso encarece o crédito e limita a expansão de empresas e novos projetos.
Do ponto de vista estrutural, a ausência de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) também pesa contra a competitividade do país. Silveira lembrou que a falta de incentivos nesse setor mantém a economia dependente de culturas tradicionais de exportação, como a soja, sem avanços significativos na diversificação produtiva.