O déficit primário das contas públicas brasileiras alcançou R$ 66 bilhões em julho, reforçando preocupações sobre a sustentabilidade fiscal do país. Esse resultado, acima das expectativas do mercado, acende um alerta sobre a credibilidade das metas fiscais anunciadas pelo governo. Para especialistas, como Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, o problema vai além dos números e revela uma distância crescente entre discurso político e execução fiscal.
Segundo Sanchez, a estratégia do governo em insistir em metas pouco realistas mina a confiança dos investidores. “A execução fiscal mostra um descompasso entre discurso e realidade”, afirmou o economista, destacando que o endividamento público continua em trajetória de alta, enquanto a credibilidade das finanças públicas segue em queda.
Como o déficit primário afeta a política fiscal do governo?
O aumento do déficit primário evidencia as limitações da política fiscal atual. Embora o governo Lula busque transmitir compromisso com responsabilidade fiscal, os números mostram uma realidade mais dura. As promessas de controle do endividamento não têm sido cumpridas, e a percepção do mercado é de que as metas funcionam mais como instrumento retórico do que como guia de política pública.
Essa diferença entre discurso e prática compromete a confiança dos investidores, que passam a exigir prêmios mais altos para financiar a dívida pública. Nesse sentido, a deterioração fiscal pode levar a pressões sobre o câmbio, juros e expectativas de inflação.
O déficit primário pode influenciar as taxas de juros?
A relação entre déficit fiscal e juros é direta. Quanto maior o déficit primário, maior a percepção de risco por parte do mercado, o que pode levar o Banco Central a adotar uma postura mais conservadora. “A expectativa é que, se a situação não se estabilizar, as taxas de juros devem subir, impactando diretamente o custo do crédito e o consumo”, alerta Sanchez.
Esse movimento cria um ciclo preocupante: juros mais altos aumentam o custo da dívida, que por sua vez amplia o déficit fiscal. O resultado é um círculo vicioso que dificulta a retomada do crescimento econômico e pressiona ainda mais as contas públicas.
Qual é o cenário macroeconômico em meio ao déficit primário?
O Brasil enfrenta, além do déficit, uma combinação de inflação persistente, incertezas políticas e desaceleração global. “As empresas precisam se adaptar a um cenário onde a previsibilidade fiscal é cada vez mais incerta”, reforça Sanchez. Esse ambiente de instabilidade reduz a atratividade do país para investidores externos e pode comprometer fluxos de capital essenciais para o equilíbrio do balanço de pagamentos.
Por outro lado, setores ligados ao consumo interno e às exportações de commodities ainda apresentam alguma resiliência, o que pode amenizar parte dos efeitos negativos no curto prazo. No entanto, a manutenção do déficit em patamares elevados tende a corroer lentamente a confiança de investidores nacionais e estrangeiros.
Como os investidores devem agir diante do déficit primário?
A piora fiscal exige que investidores adotem uma postura mais estratégica e prudente. Étore Sanchez recomenda diversificação e constante acompanhamento das mudanças de política fiscal e monetária. “A adaptação e a agilidade são fundamentais em um cenário tão volátil”, aponta o especialista.
Entre as estratégias de mitigação de riscos, destacam-se:
- Buscar ativos de renda fixa atrelados à inflação, como proteção contra juros mais altos;
- Manter exposição internacional para diluir riscos relacionados ao cenário doméstico;
- Reduzir concentração em setores diretamente dependentes de crédito subsidiado;
- Reavaliar a alocação em renda variável diante da volatilidade dos mercados.
Além disso, a análise detalhada dos fundamentos das empresas e a busca por ativos mais defensivos tornam-se estratégias indispensáveis para preservar o patrimônio em tempos de incerteza fiscal.
Conclusão
O déficit primário de R$ 66 bilhões em julho reforça o desafio do Brasil em equilibrar suas contas públicas e manter a credibilidade junto aos investidores. A combinação de gastos elevados, metas fiscais pouco realistas e aumento do endividamento pressiona a política monetária e amplia riscos para a economia. Para os investidores, o momento exige cautela, diversificação e constante monitoramento das decisões do governo e do Banco Central. Sem uma reversão consistente do quadro fiscal, a confiança seguirá fragilizada, com impacto direto no crescimento econômico do país.
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