A COP30 acendeu o debate sobre produtividade agrícola e segurança alimentar. De acordo com Miguel Daoud, “nenhum outro país possui um potencial semelhante” ao do Brasil, que reúne escala produtiva e capacidade tecnológica para ampliar a oferta global de alimentos.
Nesse sentido, o analista destaca cerca de 150 milhões de hectares agricultáveis ainda recuperáveis e a adoção de práticas que preservam aproximadamente 67% das áreas nativas. Além disso, o país combina pesquisa, clima e infraestrutura logística em expansão, fatores que, quando coordenados, elevam a eficiência e a resiliência da produção.
Como conciliar produção e sustentabilidade?
O caminho brasileiro passa por integrar tecnologia, conservação e manejo de precisão. Segundo Daoud, o agro nacional já demonstra ser possível intensificar produtividade com preservação, ao manter grandes extensões de vegetação protegidas enquanto amplia a oferta de alimentos. Além disso, políticas de incentivo à recuperação de pastagens degradadas podem destravar ganhos relevantes de produção sem conversão adicional de áreas.
Por outro lado, a sustentabilidade depende de métricas verificáveis e de rastreabilidade. Nesse sentido, ampliar sistemas de monitoramento, certificações e dados abertos fortalece a confiança dos mercados importadores e reduz barreiras não tarifárias. Enquanto isso, acesso a crédito orientado para práticas de baixo carbono pode acelerar a transição tecnológica no campo.
Quais entraves ameaçam o avanço do agro brasileiro?
Miguel Daoud alerta para os custos de financiamento, a percepção de escassez de crédito e gargalos de infraestrutura. “É necessário um esforço conjunto para superar essas barreiras e garantir que o Brasil continue a servir como um pilar na segurança alimentar global”, afirma. Além disso, juros altos encarecem capital de giro, atrasam investimentos e dificultam a adoção de soluções digitais e maquinário de última geração.
Nesse sentido, a expansão de armazenagem, a melhoria de corredores logísticos e a redução de custos de transporte são determinantes para preservar margens e competitividade. Por outro lado, a simplificação regulatória e a segurança jurídica podem destravar projetos de longo prazo, inclusive em bioinsumos, irrigação eficiente e energias renováveis aplicadas à produção.
Qual o impacto das taxas de juros na produtividade?
Os juros elevados afetam diretamente decisões de investimento e a difusão tecnológica. Além disso, produtores adiam a troca de máquinas, a adoção de agricultura de precisão e a implantação de sistemas integrados. Enquanto isso, a previsibilidade das políticas fiscal e monetária condiciona a velocidade de modernização e de escalonamento das melhores práticas no campo.
Nesse sentido, linhas de crédito com incentivos à produtividade e ao baixo carbono, aliadas a garantias mais acessíveis, podem reduzir o custo de capital e acelerar a transição. Por outro lado, sem crédito adequado, a difusão de tecnologias fica concentrada em poucas regiões, ampliando assimetrias e limitando a competitividade nacional.
A COP30 pode transformar o futuro do agro brasileiro?
Para Daoud, a COP30 é uma vitrine estratégica. “Esse evento é crucial para mostrar que é possível produzir com sustentabilidade”, enfatiza. Além disso, o Brasil pode liderar compromissos práticos que unam produtividade, conservação e inclusão financeira do pequeno e médio produtor.
Nesse sentido, a construção de consensos entre governo, setor privado e comunidade científica pode resultar em metas factíveis, cronogramas claros e mecanismos de financiamento competitivos. Por outro lado, a ausência de coordenação tende a dispersar esforços e a reduzir a capacidade do país de influenciar padrões internacionais de comércio e sustentabilidade.
Quais são os próximos passos para o setor agrícola?
O avanço da produtividade com sustentabilidade exige planejamento, financiamento e execução continuada. Além disso, a comunicação transparente com mercados e sociedade fortalece a reputação do agro brasileiro e abre novas frentes comerciais.
- Adoção de tecnologias eficientes em larga escala e agricultura de precisão
- Preservação e recuperação de áreas nativas e pastagens degradadas
- Diversificação de fontes e instrumentos para reduzir a dependência de crédito caro
- Expansão e modernização da infraestrutura logística e de armazenagem
- Rastreabilidade, certificações e dados abertos para acesso a mercados exigentes
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