O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou em evento na tarde desta terça-feira (14), que as projeções para inflação e emprego nos permanecem estáveis desde suas últimas avaliações. No entanto, ele reconheceu a presença de sinais crescentes de fraqueza no mercado de trabalho. Durante um evento promovido pela Associação de Economistas de Negócios dos EUA, Powell pontuou que não existe um caminho sem riscos na política monetária ao buscar equilibrar os objetivos de emprego e inflação do país.
Sendo questionado sobre o impacto das tarifas na inflação, Powell admitiu a possibilidade de efeitos prolongados, mas também enfatizou riscos significativos de queda no mercado de trabalho. Embora tenha optado por não especificar uma taxa de equilíbrio para a criação de empregos, ele reconheceu que a taxa de desemprego se mantém notavelmente estável, mesmo diante de um crescimento do emprego mais lento.
O impasse no Congresso americano, conhecido como “shutdown“, está impactando a coleta de dados econômicos nos Estados Unidos. Devido à paralisação de várias agências governamentais, como o Escritório de Estatísticas do Trabalho, a disponibilidade de dados precisos e atualizados tem sido comprometida. Powell destacou a importância de dados estaduais e do relatório ADP sobre folha de pagamento do setor privado, mesmo que esses não substituam as estatísticas oficiais.
Além de Powell: há consenso sobre o futuro dos cortes de juros no Fed?
Dentro do Federal Reserve, há divergências quanto ao ritmo dos próximos cortes de juros. Alguns dirigentes apoiam reduções graduais, enquanto outros, como Stephen Miran, defendem cortes imediatos e mais agressivos. As tensões inflacionárias ligadas às tarifas comerciais e a inflação acima da meta são pontos de preocupação.
A próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto está marcada para o fim de outubro, onde serão discutidas as futuras direções da política monetária. Powell também defendeu a prática de pagamento de juros sobre reservas bancárias, atualmente sob críticas no Congresso, destacando sua importância para a estabilidade financeira. Recentemente, uma proposta no Senado que visava proibir esse mecanismo foi rejeitada, evidenciando o apoio a sua manutenção como ferramenta de controle econômico.
O que dizem os especialistas sobre o discurso de Powell?
Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, o discurso de Jerome Powell reforça a continuidade do plano de corte de juros no fim do mês, conforme já sinalizado em pronunciamentos anteriores. “O fato de o presidente do Fed manter o mesmo tom é, por si só, uma indicação de estabilidade na estratégia monetária“, afirmou. Cruz destacou que, embora a ausência de dados oficiais em função do shutdown seja um problema, o Fed ainda conta com informações do setor privado e de associações econômicas, o que impede uma cegueira total sobre a situação da economia americana.
O estrategista observou ainda que Powell tem usado o enfraquecimento do mercado de trabalho como argumento principal para justificar uma redução na taxa de juros, mas alertou que o discurso também reconheceu um ponto de atenção crescente: a inflação pode se mostrar mais persistente do que o esperado, especialmente com os efeitos das tarifas comerciais. “Ele deu a entender que o impacto das tarifas pode demorar mais para ser transmitido, e isso será o grande desafio do Fed em 2026 para continuar cortando juros”, avaliou Cruz.