O governo brasileiro já articula possíveis saídas diplomáticas e comerciais após o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na semana passada. A medida impôs uma alíquota de 50% sobre produtos brasileiros, gerando preocupações em setores estratégicos da economia, como o agronegócio. Diante do impacto potencial sobre as exportações, especialmente de commodities como café e suco de laranja, o Brasil avalia apresentar possíveis propostas para suavizar os efeitos da decisão americana.
Entre os rumores que circulam, os caminhos estudados pelo Palácio do Planalto estão a redução da tarifa para 30%, o adiamento da vigência das novas regras, previstas para entrarem em vigor no dia 1º de agosto, por um período de 60 a 90 dias, e a criação de cotas de exportação para preservar parte do volume comercializado. De acordo com fontes do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou a equipe ministerial a manter firmeza nas negociações com os Estados Unidos, ressaltando que, historicamente, Trump só recua diante de posicionamentos igualmente firmes.
Reduzir tarifa de 50% para 30% não mudaria em nada
Para Alê Delara, sócio-diretor da Pine Agronegócios, a possível tentativa do governo brasileiro de reduzir a tarifa de 50% para 30% não resolve o problema central da competitividade. “Não faz sentido pedir uma redução de 50% para 30%, já que não muda nada em termos de competitividade.“
Em relação às cotas de exportação, Delara vê algum benefício no curto prazo por criarem previsibilidade para os exportadores, ao garantirem um volume isento de tarifas. No entanto, alerta que o mecanismo carrega riscos consideráveis de longo prazo. “Cotas criam um teto artificial para a participação de mercado. Perdemos espaço para concorrentes não afetados por restrições”, afirma.
Além disso, o especialista chama atenção para o risco de concentração de mercado. “Se não houver um modelo transparente de distribuição das cotas, os grandes grupos acabam capturando boa parte do mercado, sufocando pequenos e médios produtores, especialmente no caso do café. No suco de laranja, o cenário é ainda mais delicado, pois o setor já funciona como um oligopólio”, conclui Delara.
Tarifa de Trump: um problema que o Brasil não causou
Para o analista de economia e política Miguel Daoud, o Brasil não deveria sequer cogitar negociar uma tarifa de 30% após ter sido surpreendido por uma medida que considera “emocional e política” por parte do governo Trump. “Já começarmos propondo uma redução de 50% para 30% é admitir que aceitamos a lógica da punição. Isso nos enfraquece como parceiro comercial e nos coloca em posição inferior numa mesa de negociação que nem deveríamos estar”, afirmou.
Daoud acredita que o governo americano pode ainda recuar antes mesmo de o Brasil tomar uma decisão definitiva, e que a prorrogação desse cenário apenas prolonga a insegurança no setor exportador. “Enquanto essa espada estiver sobre a cabeça dos exportadores, o país vive sob pressão. O ideal seria uma solução definitiva, e não o Brasil tentando propor termos para um problema que não causou”, conclui.