A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe uma série de pontos que têm gerado discussões e interpretações entre economistas e executivos do mercado financeiro. A decisão de manter a taxa Selic elevada em 15% ao ano, embora sinalizando uma possível pausa, deixa claro que o Banco Central está mais atento à persistência da inflação e às incertezas fiscais e geopolíticas, o que reflete a complexidade do cenário atual da economia brasileira.
Carlos Braga Monteiro: o impacto da Selic alta no setor de serviços
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, destaca que o Banco Central, ao manter a Selic nesse nível, está mostrando uma preocupação com a resistência da atividade econômica, especialmente no mercado de trabalho, mas também com as incertezas fiscais e o impacto dessas questões sobre o câmbio e os preços.
Para Braga Monteiro, “a alta taxa de juros e a inflação ainda acima da meta limitam a capacidade de expansão da economia, especialmente no setor de serviços, onde o impacto será mais direto”. Ele explica ainda que “o crédito mais caro e o consumo das famílias mais contido devem resultar em uma desaceleração gradual da demanda, afetando principalmente os segmentos mais sensíveis à renda e ao financiamento”. O cenário, portanto, exige cautela e adaptação para que as empresas possam se ajustar a essa realidade de juros altos e inflação persistente.
Pedro da Matta: defesa da credibilidade monetária e oportunidades no mercado de crédito
Pedro da Matta, CEO da Audax Capital, complementa essa visão ao afirmar que a decisão de elevar a Selic reflete a postura do Banco Central de defender a credibilidade da política monetária. Para ele, a sinalização de que a taxa permanecerá elevada por um período prolongado demonstra a preocupação do Copom com a trajetória fiscal e o aumento das expectativas de inflação, que já ultrapassam os 4,5% para 2026.
Da Matta vê o aumento do custo do capital como um fator desafiador para o mercado de crédito estruturado, mas acredita que, ao mesmo tempo, surgem oportunidades para soluções personalizadas e com maior proteção para os investidores. A pressão sobre os custos de capital deve acelerar a demanda por produtos financeiros mais adaptados às necessidades do momento.
André Muller: avaliação da Selic e a importância dos canais da política monetária
Já André Muller, economista-chefe da AZ Quest, analisa a ata do Copom sob uma perspectiva mais técnica. Ele acredita que “o ciclo de aperto monetário pode ter sido interrompido, com o Banco Central agora em um momento de avaliação sobre a consistência da Selic atual para atingir a meta de inflação”.
Muller destaca a importância de observar os “canais da política monetária”, como a taxa de câmbio, o ambiente de crédito e a política fiscal para entender se o nível da taxa de juros continuará sendo suficiente para controlar a inflação. Para ele, “a estratégia do Banco Central tem sido independente e conservadora, focada em atingir as metas estabelecidas, o que pode reduzir o prêmio de risco nos ativos brasileiros, especialmente em relação à inflação implícita”.
O equilíbrio necessário entre Selic, credibilidade e crescimento econômico
Em suma, os especialistas convergem no ponto de que o cenário atual exige um equilíbrio delicado entre manter a credibilidade da política monetária e lidar com as pressões externas e internas. Embora a Selic elevada seja uma resposta às incertezas fiscais e à inflação persistente, cada especialista aponta desafios distintos para os próximos meses, com a expectativa de que a economia se ajuste a um ambiente de juros altos, com impacto no crédito, no consumo e nas expectativas de crescimento.
 
			



 














