Vamos supor que você seja diretor de um banco e receba um pedido de empréstimo. A empresa requerente perde dinheiro desde 2022 e o último prejuízo semestral é de R$ 4,3 bilhões. As despesas administrativas da companhia cresceram 74% desde 2023 e suas receitas caíram 61% neste período. A mesma empresa suspendeu o pagamento de R$ 2,75 bilhões a fornecedores e tributos, além de perder paulatinamente espaço em seu mercado. Ah, mais um detalhe: seu custo fixo é de 85% das despesas totais.
Como executivo de uma instituição financeira, você aprovaria qualquer tipo de operação de crédito para um cliente desses? Obviamente, não. Mas uma proposta como esta se encontra na mesa de vários banqueiros. O pedido vem dos Correios, que demandam um empréstimo de R$ 20 bilhões para fechar as contas em 2025 e 2026 (um montante superior ao faturamento anual da estatal, que chegou a R$ 18,9 bilhões no ano passado). Para facilitar a aprovação, o Tesouro Nacional deve entrar como avalista do empréstimo.
Mas, para a operação ser aprovada, a estatal teria de cumprir uma série de exigências. Entre elas, está a execução de um plano de reestruturação para cortar gastos com pessoal, o que inclui a implementação de um novo Programa de Demissão Voluntária. Também precisaria regularizar passivos trabalhistas em atraso, como débitos com o INSS, além de quitar dívidas acumuladas com fornecedores e prestadores de serviços.
Lembremos que os Correios foram colocados na lista de privatizações do governo de Jair Bolsonaro, mas a intenção não chegou a sair do papel. Ao tomar posse, Luiz Inácio Lula da Silva manteve a empresa sob jugo estatal e o show de horrores teve início. O prejuízo de R$ 597 milhões naquele ano foi só o primeiro sinal de uma derrocada anunciada. A nomeação de Fabiano Silva dos Santos — advogado sem qualquer experiência no setor logístico, escolhido por conveniência política — escancarou a troca de prioridades, privilegiando-se o apadrinhamento político.
O resultado? Uma bomba-relógio que começou a explodir já em 2024. O rombo saltou para R$ 2,6 bilhões, o maior desde 2016. A estatal perdeu fôlego diante da concorrência privada e viu os custos administrativos dispararem. Para piorar um cenário já ruim, o próprio governo ainda sabotou uma das principais fontes de receita dos Correios, o de encomendas ao exterior. Ao implementar a chamada “taxa das blusinhas”, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, gerou um efeito colateral para a companhia pública: reduziu o faturamento da área de compras internacionais em R$ 4 bilhões durante o ano de 2024.
Veio 2025, e o colapso se consolidou. O Tribunal de Contas da União classificou os Correios como “alto risco econômico-financeiro”, e Fabiano virou alvo de investigações no Senado e no Ministério Público por suspeita de improbidade. Sua saída em julho foi o desfecho previsível de uma gestão marcada por incompetência e loteamento de cargos públicos.
Diante de tudo isso, é o caso de se perguntar: o mesmo governo que afundou essa estatal poderá salvá-la? Esta é, evidentemente, uma pergunta retórica.
Injetar R$ 20 bilhões em uma empresa sem fôlego e decadente é queimar dinheiro público. Por isso, é preciso pressionar cada vez mais pela privatização dos Correios. Privatizar agora é preservar valor. É dar à empresa a chance de se reinventar com gestão profissional e competitiva. Se nada for feito, os R$ 20 bilhões que podem ser captados junto os bancos serão jogados no lixo — junto com a última oportunidade de salvar os Correios.