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O passo do cidadão e o olho invisível: quando a vigilância se torna destino

Fabio OngaroPor Fabio Ongaro
23/09/2025

Há pouco tempo, circulou a hipótese de que alguém, filmado por câmeras de segurança, teria simulado uma claudicação para escapar do reconhecimento algorítmico pela forma de andar. Pode soar como ficção científica, mas a questão é séria: cada um de nós caminha com um estilo próprio, quase como uma assinatura biométrica. O simples ato de deslocar-se já pode se transformar em dado. Mais provável, no caso, é que aquele indivíduo estivesse carregando algo oculto nas roupas. Ainda assim, a ideia de que softwares possam identificar cidadãos apenas pelo ritmo da marcha é perturbadora. É o prenúncio de um mundo em que o corpo não se limita a ser vigiado: ele se torna código, chave de acesso, senha involuntária.

A vigilância digital já não se resume a câmeras fixas. Hoje, envolve milhares de dispositivos espalhados em ruas, drones que percorrem bairros, softwares que cruzam informações de redes sociais e algoritmos que monitoram fluxos de veículos. Em algumas cidades, a polícia montou verdadeiros sistemas de inteligência urbana, capazes de prever horários de deslocamento, rotas usuais, padrões de comportamento. Esses programas, que consomem bilhões de dólares, operam muitas vezes sem necessidade de autorização judicial especial. A lógica é clara: registrar tudo agora, analisar depois, se necessário. É o roteiro de um “Minority Report” transformado em prática.

O impacto, sabemos, não é uniforme. Adolescentes em áreas populares acabam frequentemente incluídos em bancos de dados de “gangues”, mesmo sem crime cometido. Uma vez lá dentro, começam os interrogatórios, abordagens constantes, apreensões de celulares. O que se encontra em mensagens privadas pode alimentar novas suspeitas. Em alguns casos, colhe-se até DNA. A vida social sofre: jovens passam a ser evitados por colegas, famílias se distanciam, a desconfiança alastra-se como contágio. O simples fato de estar “fichado” significa carregar um estigma difícil de apagar. A paranoia, inevitavelmente, se espalha.

Há registros de pessoas presas por meses a partir de descrições genéricas, apenas por coincidirem em cor da pele e altura com a figura de um suspeito. Em outros casos, curtidas em redes sociais bastaram para justificar a acusação de ligação com grupos ilegais. Ainda que depois absolvidas, essas pessoas ficam marcadas: o arquivo permanece, o dado nunca desaparece. Também houve manifestantes pacíficos, detidos brevemente, cadastrados e liberados, mas que descobriram depois que suas fichas haviam sido repassadas a autoridades migratórias. A consequência: risco de deportação.

A fronteira entre vigilância de segurança e vigilância política se dissolve rapidamente. Outro exemplo ainda mais revelador: mulheres em estados onde o aborto é proibido podem viajar a locais onde a prática é legal. Mas seus deslocamentos, clínicas visitadas, pessoas que as acompanharam, tudo pode ser solicitado por autoridades e anexado a seus perfis. Dados de saúde transformam-se em dados policiais. A juventude, antes apenas “em risco”, pode tornar-se adulta passível de chantagem.

Não surpreende, portanto, que em manifestações muitos já deixem os celulares em casa. O problema é que, mesmo sem aparelhos, a rede de vigilância é quase infinita: câmeras de rua, drones, cartões de transporte, dados de localização de veículos. Não há como escapar totalmente do rastreamento. O efeito psicológico é devastador. A ideia de estar sempre sob observação produz autocensura, silenciamento e medo de exercer direitos democráticos básicos. A democracia enfraquece quando a cidadania se exerce sob suspeita constante.

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Defensores desses sistemas argumentam que eles aumentam a segurança, evitam crimes, permitem resposta mais rápida. É verdade que a tecnologia tem potencial positivo. Mas, o que assusta é a ausência de limites claros: quais dados podem ser coletados? Quem decide? Quem audita? Como se corrige um erro? O viés é inevitável: se os bancos de dados originais refletem desigualdades raciais, sociais ou territoriais, o algoritmo reproduz e amplifica. Uma ferramenta que deveria proteger pode, na prática, punir sempre os mesmos grupos.

Esse fenômeno não é restrito a uma cidade ou a um país. Na Europa, o uso de reconhecimento facial em espaços públicos já gerou proibições e intensos debates parlamentares. O regulamento europeu de proteção de dados estabeleceu salvaguardas, mas mesmo lá há dúvidas sobre eficácia. Na Ásia, os exemplos vão mais longe: sistemas de crédito social, punições automatizadas, vigilância em massa com reconhecimento facial permanente. A linha entre segurança e controle social torna-se quase inexistente.

E o Brasil? Ainda que não disponha do mesmo arsenal tecnológico de Nova York ou de certas cidades chinesas, segue a mesma trilha em ritmo acelerado. Multiplicam-se projetos de vigilância em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, que já testam sistemas de reconhecimento facial em metrôs, rodoviárias e estádios. Em alguns casos, houve prisões baseadas apenas na identificação feita por câmeras, com registros de falsos positivos. Sem regulação robusta, cada erro se converte em tragédia individual. Aqui, a desigualdade histórica adiciona uma camada de risco: o monitoramento tende a recair sobre jovens negros, pobres, moradores de periferia. A tecnologia, longe de nivelar, pode aprofundar injustiças.

Além disso, há no Brasil um fenômeno particular: a convivência de baixa confiança institucional com alta aceitação popular de medidas de vigilância. Parte da população, cansada da violência cotidiana, vê nas câmeras e algoritmos uma promessa de solução rápida. Mas, essa confiança pode ser ilusória. Sem mecanismos de auditoria e transparência, o que nasce como instrumento de segurança pode se tornar ferramenta de abuso. A tentação de monitorar manifestações, rastrear opositores ou cruzar dados de saúde e comportamento não está distante.

Três dimensões se entrelaçam nesse debate. A primeira é jurídica: legislar sobre quais dados podem ser coletados, com que finalidade e por quanto tempo podem ser armazenados. A segunda é ética: algoritmos devem ser transparentes, auditáveis e corrigíveis, evitando vieses que criminalizam comunidades inteiras. A terceira é cultural: sociedades precisam discutir até onde aceitam abrir mão da privacidade em nome da segurança. Sem esse debate, o “estado de exceção digital” se naturaliza.

A tendência é de expansão. Departamentos públicos já pedem unificação de arquivos e integração de bases de dados para ter retratos mais completos de cada cidadão. Grandes empresas de tecnologia, algumas com ligações diretas a governos, lucram com contratos bilionários de vigilância. A nova face do poder não é burocrática, mas algorítmica. O simples gesto de caminhar pode, em breve, definir quem você é aos olhos da máquina. E mais: determinar se você será livre ou suspeito. A marcha, que para filósofos simbolizava a diversidade das visões de mundo, pode ser transformada em código de detecção.

A questão central não é apenas técnica. É política, jurídica e civilizacional. Quem controla os dados controla também a narrativa sobre quem somos. O risco não é viver em um Estado policial clássico, mas em algo mais sutil: uma sociedade em que cada ação, do trajeto diário ao post nas redes sociais, alimenta um perfil permanente, impossível de apagar. A vigilância, nesse cenário, deixa de ser exceção e se torna destino.

*Coluna escrita por Fabio Ongaro, economista e empresário no Brasil, CEO da Energy Group e vice-presidente de finanças da Camara Italiana do Comércio de São Paulo – Italcam

As opiniões transmitidas pelo colunista são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News. Leia mais colunas do autor aqui.

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