O recente anúncio do governo federal de um bloqueio de R$ 10 bilhões no orçamento não foi suficiente para acalmar os ânimos do mercado financeiro. Apesar da tentativa do Executivo de vender a medida como sinal de responsabilidade fiscal, a falta de histórico de execução desses ajustes levanta dúvidas sobre sua efetividade. A avaliação é de Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos, em entrevista à BM&C News.
“O governo anunciou um contingenciamento de R$ 20 bilhões no ano passado e, na prática, executou menos de R$ 5 bilhões. O mercado lembra disso”, afirmou Espírito Santo.
Segundo ele, embora o bloqueio tenha sido inicialmente bem recebido — com reação positiva da Bolsa — a confiança foi rapidamente abalada por novas sinalizações do governo, vistas como contraditórias e mal planejadas.
Fiscal no radar: improviso e baixa coordenação fragilizam a credibilidade
Espírito Santo reforça que o problema não está apenas nos números, mas na forma como as decisões têm sido tomadas. Ele aponta um cenário de baixa coordenação entre ministérios e falta de controle sobre os gastos, que enfraquece a credibilidade fiscal do país.
“É difícil entender o objetivo do governo. Parece improviso. O mercado reage mal porque percebe insegurança e ausência de planejamento real”, declarou.
O economista lembra que a economia precisa de previsibilidade para atrair investimentos consistentes. “Não dá para ter uma economia pujante com um mercado desconfiado. E é exatamente isso que temos visto nos últimos meses.”
Brasil pode ser oportunidade, mesmo com fiscal sensível
Outro ponto levantado por Espírito Santo é o cenário internacional. Com o dólar mais fraco e investidores globais mais atentos a oportunidades em emergentes, o Brasil poderia estar em posição vantajosa. No entanto, segundo ele, o ruído fiscal e tributário afasta o capital necessário para cobrir o déficit em conta corrente.
“O investimento direto já não é suficiente. Vamos precisar de capital especulativo também. E o governo, ao invés de criar um ambiente atrativo, gera insegurança.”
Ele cita ainda a recente tributação de 5% de IOF sobre aplicações em VGBL como um exemplo de medida contraditória. “O Brasil tem uma poupança estruturalmente baixa e um problema sério de previdência. Por que dificultar o incentivo à poupança de longo prazo?”, questionou.