A crescente pressão sobre as contas públicas dos Estados Unidos voltou ao centro do debate econômico internacional. O alerta veio de grandes nomes de Wall Street, que veem um cenário de possível deterioração do mercado de títulos públicos americanos. Para o economista Bruno Corano, o principal risco não é de calote — mas sim de perda de credibilidade.
“Os Estados Unidos não deixarão de pagar sua dívida. O próprio secretário do Tesouro já afirmou isso. O risco real não é de inadimplência, mas de uma perda de confiança estrutural no sistema”, afirmou Corano em entrevista à BM&C News.
Dívida trilionária dos Estados Unidos levanta preocupações estruturais
Com os pagamentos de juros da dívida ultrapassando US$ 1 trilhão por ano, o cenário fiscal americano se tornou matematicamente insustentável no longo prazo, segundo o economista. Embora essa trajetória de crescimento da dívida não seja nova, o volume atual somado ao ambiente geopolítico gera um ponto de inflexão.
“A dívida americana é gigantesca há décadas, mas o que mudou recentemente foi a resposta do mercado internacional frente a eventos de instabilidade”, explicou Corano.
Quebra do padrão: dólar e títulos não se valorizam em momentos de crise
Historicamente, períodos de crise global geravam forte demanda por dólar e títulos do Tesouro dos EUA. No entanto, segundo Corano, esse comportamento começou a se inverter. “Recentemente, vimos o Japão e a China, grandes credores, vendendo títulos americanos em um momento de incerteza. Isso é algo raro e preocupante.”
O economista relata bastidores de uma reunião entre autoridades americanas e Donald Trump para conter os ruídos no mercado. “Trump teria sido alertado no Air Force One sobre os riscos de suas medidas afetarem diretamente a credibilidade da dívida americana”, afirmou.
O ativo mais valioso dos Estados Unidos: credibilidade
Atualmente, cerca de 75% da dívida americana está nas mãos de investidores domésticos, como bancos, fundos de pensão e fundos de investimento. Apenas 25% é detida por estrangeiros. Apesar disso, Corano ressalta que todo o sistema se apoia em um ativo intangível: a confiança.
“O que permite aos Estados Unidos manter uma dívida de trilhões é a credibilidade. E é exatamente isso que está sendo questionado agora por grandes nomes do mercado”, alertou.
“Crise” nos Estados Unidos e as consequências para os mercados globais
A percepção de risco em relação à dívida americana pode ter efeitos em cadeia sobre a curva de juros e os fluxos de investimento internacional. Se a confiança nos títulos americanos enfraquecer, o custo de financiamento tende a subir, o que impacta desde decisões de política monetária até o apetite por ativos de risco ao redor do mundo.
Para Corano, a questão fiscal dos EUA precisa ser administrada com responsabilidade para evitar uma reação em cadeia nos mercados globais. “O desafio não é só econômico, mas também político. Preservar a credibilidade é fundamental para a estabilidade do sistema global”, concluiu.