O economista e cofundador da Empiricus, Felipe Miranda, afirmou em entrevista ao programa BM&C Visões que o Brasil tem potencial para viver um longo ciclo positivo, caso faça a escolha correta nas eleições de 2026. Para o analista, o país pode romper com um histórico de estagnação se optar por uma agenda mais técnica e menos intervencionista.
“Se o Brasil fizer a opção pela centro-direita em 2026, podemos ter um ciclo de até nove anos de crescimento. Estamos vindo de 15 anos ruins. Por que não podemos ter nove bons?”, afirmou.
IOF e amadorismo fiscal no Brasil: “capotamos na reta”
Miranda foi crítico ao comportamento recente do governo federal, especialmente com relação à tentativa de aumento do IOF sobre remessas internacionais, medida que acabou sendo revertida após repercussão negativa no mercado.
“O Brasil estava surfando um bom momento para emergentes, com dinheiro entrando, juros estabilizando, e aí o governo decide criar um problema que não existia. Capotamos na reta”, disse o estrategista.
Ele considerou a condução da política econômica confusa e mal coordenada, destacando a mistura de anúncios positivos e negativos no mesmo dia como exemplo de falta de estratégia.
“O relatório bimestral de receitas e despesas veio mais crível e mostrou corte de R$ 31 bilhões, o que era positivo. Mas tudo foi ofuscado pelo anúncio equivocado sobre o IOF. Mostra despreparo e improviso”, avaliou.
Brasil barato, juros altos e capital externo
Na visão do estrategista, o Brasil está se beneficiando de um movimento global de diversificação fora do dólar, impulsionado por instabilidades nos Estados Unidos e tensões geopolíticas. A combinação de ativos descontados, juros reais elevados e a posição do Brasil fora das zonas de conflito coloca o país em posição privilegiada.
“O mundo está cansado do excepcionalismo americano. Parte desse capital está vindo para mercados como o Brasil. Nossa bolsa está barata, o volume da B3 caiu pela metade, e tem muito short ainda. É um ambiente atrativo”, explicou.
Miranda também acredita que a queda da Selic é inevitável. “Não há país que sustente juro real de 9% por muito tempo. Isso precisa cair, e deve cair”, afirmou.
Críticas ao modelo fiscal atual no Brasil: “não dá para crescer com despesas obrigatórias em alta”
Ao comentar a sustentabilidade fiscal do país, Miranda alertou que o atual modelo orçamentário está travado e será insustentável até 2027. Segundo ele, o arcabouço fiscal espreme os gastos discricionários enquanto os obrigatórios — como previdência, saúde e educação — crescem acima da inflação.
“Se 90% das despesas crescem rápido e você só pode crescer 2,5% no total, o resto precisa cair. Mas isso é impossível de executar na prática. O governo terá que rediscutir tudo em 2026. Não há saída fácil”, concluiu.
Otimismo cauteloso com o Brasil
Apesar das críticas, Felipe Miranda se mostra otimista com o futuro do país no médio prazo, especialmente se houver uma mudança de rota política.
“O Brasil pode ser a bola da vez se fizer a lição de casa. Temos ativos baratos, uma posição geográfica favorável e capacidade de absorver capital externo. Mas precisamos de decisões certas e coragem política”, afirmou.