O posicionamento do Brasil ao condenar os ataques dos Estados Unidos e de Israel contra o Irã gerou preocupação entre analistas internacionais. Para Manuel Furriela, mestre em Direito Internacional, o governo brasileiro caminha por uma linha perigosa ao defender publicamente o uso pacífico da energia nuclear por parte de um regime amplamente questionado pela comunidade internacional.
“Não faz sentido técnico nem diplomático sustentar que o programa nuclear iraniano é pacífico”, afirma Furriela. “O nível de enriquecimento de urânio adotado pelo Irã supera os limites utilizados para fins civis. Quando se ultrapassa os 5%, já se entra no campo de possível uso militar.”
AIEA não assegura uso pacífico do Irã: o alerta ignorado pelo Brasil
O especialista lembra que a própria Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não conseguiu garantir que o programa iraniano tenha objetivos exclusivamente civis. “A AIEA não afirma que o Irã está desenvolvendo armas nucleares, mas também não consegue afirmar o contrário. Isso, por si só, já caracteriza um cenário de risco. Não há como ignorar esse alerta técnico”, ressalta.
Desde 2006, o Irã é alvo de sanções internacionais justamente por conta do desenvolvimento de seu programa nuclear. Ainda assim, o Brasil decidiu adotar um discurso mais alinhado ao regime iraniano, alegando defesa do uso pacífico da energia atômica posição considerada ingênua ou mal calculada por especialistas.
Crise no Irã: neutralidade e pragmatismo deveriam guiar a política externa
Na avaliação de Furriela, o Brasil tem tradição diplomática sólida e mantém boas relações tanto com o Irã quanto com Israel e os Estados Unidos. Por isso, o mais sensato seria adotar uma postura de neutralidade pragmática. “O Brasil não é protagonista nesse conflito. E não há ganho estratégico em tomar partido de um lado que, inclusive, financia milícias e reprime seu próprio povo”, argumenta.
Segundo ele, críticas pontuais, como a violação do espaço aéreo iraniano por bombardeiros americanos, poderiam até ser compreensíveis no contexto de um discurso diplomático equilibrado. “Mas elevar o tom ou tentar assumir um papel de mediador sem ser requisitado pode colocar em risco nossa imagem internacional. O Brasil pode acabar isolado ou desconsiderado”, alerta.
 
			



 














