Diante do recente choque nos preços do petróleo e do cenário global mais desafiador, o economista Pedro Paulo Silveira defende que uma eventual alta da Selic na próxima reunião do Copom pode representar um gesto de comprometimento do Banco Central com a credibilidade da política monetária.
Em entrevista à BM&C News, Silveira destacou que, apesar da melhora no IPCA de maio, o contexto exige atenção redobrada com as expectativas de inflação, que seguem desancoradas. “A política monetária demora a fazer efeito, então o Banco Central precisa agir agora pelo canal das expectativas. A Selic pode subir mais como sinal do que por impacto direto na economia real”, avaliou.
Selic como ferramenta de sinalização
O economista explica que parte importante da inflação é determinada pelas expectativas dos agentes econômicos, e não apenas por fatores tradicionais como câmbio ou hiato do produto. Para ele, a Selic ainda é um instrumento eficaz para ancorar percepções, mesmo quando seus efeitos diretos demoram a aparecer nos indicadores de consumo e atividade.
“A literatura econômica tem reforçado esse papel. E, no caso brasileiro, as expectativas são extremamente sensíveis ao posicionamento do Banco Central”, comentou Silveira.
Expectativas desancoradas acendem alerta para a decisão da Selic
Apesar de os indicadores de inflação implícita nos títulos públicos ainda estarem sob controle, Silveira alerta que o risco está na tendência. “As expectativas estão desancoradas. É provável que os dados do Boletim Focus nas próximas semanas passem a refletir o novo cenário externo, com choques de petróleo e tarifas”, afirmou.
Selic mais alta como resposta à pressão política e de mercado
Para o economista, uma eventual alta da Selic nesta semana teria papel simbólico relevante, inclusive como resposta às pressões políticas. “Diante das críticas ao Banco Central e dos questionamentos sobre sua autonomia, um aumento da Selic serviria como um recado claro: a autoridade monetária segue firme em seu compromisso com a estabilidade”, concluiu.