
Várias profecias apocalípticas sobre o colapso chinês têm feito parte do noticiário atual. Muitos “analistas”, desconhecedores da realidade chinesa, propagam informações baseadas em suas perspectivas ocidentais sobre uma civilização que tem uma história de mais de cinco mil anos e dois mil de unificação. Entender a China e compreender a sua realidade requer uma quantidade de conhecimento que livros ocidentais ou décadas de estudo jamais poderão contemplar. Mas, frequentemente, observamos “especialistas” vaticinando o colapso do país asiático.
Não é a primeira vez que isto acontece. Isto já ocorreu no passado recente, como durante o colapso do império soviético ou a Crise Asiática da década de 1990. Em todas estas ocasiões, o colapso chinês tem sido anunciado aos quatro ventos. A objetividade que deve imperar na análise inexiste.
Essa repetição frequente do mantra do colapso chinês tem qualquer justificativa efetiva? Como pode alegar-se que o país está em situação trágica, quando, em 2022, um dos anos mais desafiadores da história chinesa por causa da pandemia da COVID-19, a China ainda logrou crescer cinco porcento (e, também, já nos primeiros oito meses deste ano), quando a maior parte dos países desenvolvidos cresceram entre zero e três porcento? Ademais, conforme recentemente anunciado pelo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, a China ainda continua ser a locomotiva mais importante para assegurar o crescimento global.
Estas “análises” impedem o avanço e aprofundamento do relacionamento bilateral. Brasil e China são economias complementares e uma relação bilateral mais intensa pode gerar ganhos substanciais nos dois países. Se o governo brasileiro atual busca deixar o legado que dure por gerações – ao invés da inexequível busca de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas – deveria tomar duas ações fundamentais para avançar o desenvolvimento econômico do País: (i) dar um passo atrás no Mercosul e transformá-lo de Mercado Comum em uma Área de Livre Comércio.
Com isto, os países-membros terão a vantagem de poder firmar acordos com quaisquer parceiros comerciais que desejarem e, se possível, incluírem o Chile e Peru neste novo acordo; e (ii) fechar, o mais rápido possível, um acordo de livre comércio e de investimentos com a China. O Uruguai tem claramente acenado que o Mercosul já não lhe é mais um acordo conveniente e pretende buscar abertura comercial com a China.
A ampliação da relação bilateral com a China poderá permitir um aumento essencial nos investimentos em infraestrutura que o Brasil desesperadamente precisa para facilitar o escoamento de sua produção e incrementar a competitividade da indústria nacional.
Na próxima vez que ouvir “análises” sobre o colapso chinês, lembre-se que os chineses, de fato, enfrentam um crescimento menor e sanções contra as suas empresas. No entanto, a resiliência histórica de uma civilização tão longeva já comprovou a capacidade de sobrepujar desafios muito maiores e em momentos muito mais desafiadores.