Nos últimos meses, a proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a respeito do Novo Ensino Médio ganhou espaço na imprensa e nas conversas cotidianas – um bom indicador, por exemplo, é quando alguém na fila do supermercado está comentando o assunto.
O fato de ser pauta na boca do povo é positivo, pois esse é um assunto que diz respeito à sociedade como um todo, e não apenas a quem tem filho-sobrinho-afilhado em idade escolar.
Deixando de lado os consensos e desacordos sobre arranjos curriculares, trago uma provocação direcionada para outro ângulo – que deveria ser considerada em todas as teorias – com alguns questionamentos sobre os jovens como indivíduos, e não apenas como estudantes: como estão esses adolescentes? Que mudanças ocorreram no cenário político, econômico e social, nos últimos anos, que impactaram a vida e as perspectivas de futuro desses meninos e meninas?
São questionamentos que também estão conectados, de alguma forma, à escola, mas não se pode ignorar o fato de que 38% dos jovens não estão nem no Ensino Médio nem no mercado de trabalho. Então, onde estão? E, principalmente, como estão?
A chamada Geração Z, adolescentes nascidos entre 2000 e 2010, enfrenta uma grande crise de saúde mental que, segundo estudiosos, é fortemente agravada pela pressão causada pelas redes sociais. Longe de ser um problema apenas no Brasil, o mundo todo vem sentindo a crescente onda de depressão e ansiedade que, em muitos casos, podem levar o jovem a tirar a própria vida.
Adolescentes precisam ser cuidados
Hoje, convivemos com a negligência à saúde mental dos jovens e adolescentes, que já nos deram sinais, mais do que suficientes, de que não dão conta sozinhos de lidar com tantas dificuldades.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019 revela que um terço dos estudantes de 13 a 17 anos se sentia triste na maior parte do tempo ou sempre. Outro dado do estudo aponta que 21,4% sentiam que a vida não valia a pena ser vivida. Vale ressaltar que a pesquisa foi feita antes da pandemia, circunstância que agravou ainda mais o problema.
“Dizem que os jovens são o futuro da pátria, mas o que eles (nós) estão fazendo para melhorar nosso futuro?”.
Essa fala é de uma das personagens do documentário “Nunca me sonharam”, produzido pela Maria Farinha Filmes em 2017, que retrata a realidade do Ensino Médio nas escolas públicas do Brasil, dando voz a estudantes, gestores, professores e especialistas. Esse conteúdo é essencial para compreender a realidade da juventude e das escolas brasileiras.
É urgente uma mudança no processo de ensino-aprendizagem, e uma atualização da escola que conhecemos hoje, de modo que ela faça sentido na vida dos jovens e que esteja conectada aos interesses deles. Mas, como fazer com que esses adolescentes, fragilizados emocionalmente, deprimidos e desinteressados pela própria vida, estejam dispostos e aptos a estudar?
Apesar do cenário, há caminhos para solucionar a questão. Para isso, é necessário unir esforços para além da escola. Fomentar políticas públicas para o enfrentamento do problema, com ações que contemplem tanto os jovens quanto seus familiares. E, considerem a urgência de se promover o desenvolvimento socioemocional desses estudantes.
É preciso mais do que um band-aid no peito deles. Falta suporte. Falta apoio. Falta escuta. É necessário que se dê atenção a esses sinais, com ações que resgatem os jovens para que eles retomem suas vidas e, como deveria ser nessa fase, vivam, aprendam, desbravem, questionem e sonhem.
Tirá-los do banco de reserva de suas existências e colocá-los para jogo, com todo o potencial intrínseco à juventude.
O assunto é complexo; voltaremos a ele no próximo texto.