
Ao aproximar-nos do primeiro ano da guerra na Ucrânia, é importante fazer uma avaliação da situação e seu impacto sobre a ordem mundial. A agência Reuters publicou, recentemente, algumas estatísticas dessa guerra. Os números são catastróficos: cerca de 42.295 mortes, 56.756 feridas, 15.000 desaparecidos, 14 milhões de deslocados, 140.000 edifícios destruídos e um custo estimado de US$ 350 bilhões.
As palavras do norte-americano Franklin Delano Roosevelt na Segunda Guerra Mundial ainda ecoam pelos ventos da história: “Eu vi guerra. Eu vi a guerra na terra e no mar. Eu vi sangue escorrendo dos feridos. Eu vi homens tossindo seus pulmões gaseados. Eu vi os mortos na lama. Eu vi cidades destruídas. Vi 200 homens exaustos e coxeando saírem da linha — os sobreviventes de um regimento de 1.000 homens que avançou 48 horas antes. Já vi crianças morrendo de fome. Tenho visto a agonia de mães e esposas. Eu odeio a guerra.”
Infelizmente, o fim não está próximo porque a injustificada ação da Rússia, o avanço da Organização do Atlântico Norte em áreas de influência russa e a luta global pela hegemonia na ordem global têm impedido que se chegue a um desfecho rápido. A guerra na Ucrânia se transformou num conflito sangrento pelo poder global.
As armas não-militares utilizadas pelo Ocidente têm falhado substancialmente. As sanções – que pretendiam fazer a Rússia voltar à Idade da Pedra na economia não têm funcionado. De fato, têm evidenciado que sanções somente funcionam quando aplicadas a países pequenos e por um curto prazo de tempo. Além disso, sem o devido planejamento quanto ao encerramento das sanções todos ficam em dúvida quanto à viabilidade política dos novos ocupantes do poder no território sancionado. As restrições monetárias, impostas pelos Estados Unidos em razão do poder do dólar e dos mecanismos de comunicação financeira – SWIFT – têm sido menos eficazes que no passado. E o Sul Global tem uma opinião menos solidária à Ucrânia, ao entender que este conflito é europeu em sua natureza e que os Estados Unidos pretendem mais consolidar sua posição como potência global do que, de fato, buscar a paz no conflito.
A ideia do atual ocupante do Palácio do Planalto de criar-se uma coalizão de países pela paz até seria uma ideia interessante se o discurso fosse, de fato, transformado numa estratégia efetiva e não, simplesmente, um arroubo sem efetividade e que buscasse a resolução definitiva do conflito. Infelizmente, utilizar-se do marketing político para ter ganhos numa guerra sangrenta e impiedosa não representa o melhor do Brasil. Afinal, a pergunta da comunidade internacional é: qual é a estratégia sugerida para resolver esta situação?
O mundo precisa da paz. Embora distantes do conflito – o que nos faz crer que não somos afetados por ele – a realidade é que esta guerra na Ucrânia está prolongando a falta de crescimento global. E com isto, perdemos todos. O custo desta guerra será sentido por gerações, pelos problemas econômicos gerados e pelo redesenho da ordem global. Eu odeio a guerra.