
No pregão da última quinta-feira (12), as ações da Americanas (AMER3) tiveram uma queda histórica de 77%, saindo do patamar de R$ 12 para R$ 2. Vale a pena destacar que essa queda é a maior registrada pelo Ibovespa desde 1994 segundo um levantamento do Valor Data. Até então, a maior queda na bolsa de valores brasileira tinha sido em 1995, um tombo de 72,82% nas ações da Cemig (CMIG4).
Entretanto, para a surpresa de muitos investidores, nesta sexta-feira (13), os papéis AMER3 operam em alta de 55% cotados aos R$ 4,22 (às 15h) como a maior alta do principal índice da bolsa. Para explicar esse movimento de extremos em apenas 48 horas, a sócia e analista da GTI, Paola Mello explica que existem dois motivos que explicam esse movimento.
“A primeira é que os investidores que estavam com posições vendidas podem alugar as ações para poder abrir a posição short, depois eles recompram ela no mercado para devolver a posição original para quem fez o aluguel. Então isso já gera um um volume de compra. Outra coisa é que com toda essa queda, o valor que é pago para quem aluga essas posições está com uma taxa média de 100% ao ano. Essa é uma taxa muito alta. Então se você comprar as ações e alugá- las para alguém que está com esse querendo seguir apostando na queda e você pode receber uma taxa muito alta, uma boa remuneração. Então esses dois fatores poderiam justificar esse movimento”, comenta.
A alta da AMER3 indica a recuperação dos ativos?
Para responder essa pergunta, em primeiro lugar é importante lembrar que quando uma ação cai, para se recuperar ela precisa subir três vezes mais do que caiu. Ou seja, para que os ativos AMER3 voltem ao seu patamar de R$ 12 é preciso uma alta de mais de 300%. Justamente por isso e pela gravidade do rombo divulgado pela empresa, o analista especialista em varejo e educação da Genial Investimentos, Vinicius Esteves, indica a venda dos ativos, de acordo com o relatório realizado com os analistas Iago Souza e Igor Guedes.
“O ‘buraco’ que a Americanas entrou não parece ser um caso isolado, mas sim estrutural. A inconsistência contábil, que foi estimada em R$20 bilhões na companhia em questão (dados não auditados), pode ser um problema que se arrasta pelo setor de varejo desde a década de 1990, devido à falta de padronização (lê-se “contabilidade criativa” ou “livre arbítrio”) em interpretar e reportar o “risco sacado” dentro do balanço. Ou seja, outras varejistas fazem operações de risco sacado (isso é fato) e pode ser (é apenas uma hipótese, nesse momento) que o erro encontrado na Americanas na forma de reportar a informação dentro do passivo ocorra em outras empresas do setor”, afirma o relatório.
Perspectivas os ativos da AMER3 daqui para frente
A Americanas precisa enfrentar um longo caminho pela frente, já que foram instauradas uma série de investigações para averiguar o rombo de R$ 20 bilhões na empresa. Paola Mello, analista da GTI faz algumas previsões para o papel em meio às notícias e dados que já foram divulgados pela Americanas.
“Quando sai algum escândalo de contabilidade, geralmente ele nunca vem sozinho. Vamos relembrar o que aconteceu com a Via assim que houve a troca de gestão em que foram apontados também alguns problemas, algumas inconsistências contábeis, depois desse primeiro anúncio ainda seguiram-se mais dois outros ajustes. Então eu imagino que o mesmo aconteça com a Americanas.”, comenta a analista.
“O rombo de R$ 20 bilhões foi uma estimativa preliminar que o CEO que ficou apenas dez dias na companhia fez, mas agora haverá uma auditoria independente, mais profunda, e aí a gente vai ter uma dimensão mais concreta do que aconteceu. Aí vão se seguir muitos ajustes nos livros da companhia, tanto de 2022, como de anos passados, e a empresa provavelmente vai ter que reduzir um pouco seus volumes de investimentos e então os números tendem a piorar. Então imagino que é uma companhia que os investidores tirem do seu radar, seja pela deterioração dos resultados, seja pela quebra de confiança. Portanto, será um cenário muito difícil para essa ação nos próximos anos”, finaliza.
E o varejo? Como fica?
Más notícias para uns, boas notícias para outros, como é o caso dos papéis da Magazine Luiza (MGLU3) que tendem a se beneficiar com a derrocada da Americanas, segundo análise de Paola Mello.
“A situação da Americanas é realmente muito difícil e provavelmente ela vai precisar de uma capitalização, que ela vai acabar reduzindo consideravelmente a sua operação, o que melhora o cenário competitivo para quem fica. Então para uma empresa como o Magazine Luiza isso é bom, já que você tira de cena um concorrente importante do mercado”, explica a analista.