Nos últimos anos, o Brasil voltou a conviver com juros em patamares historicamente elevados. Esse cenário fortaleceu a atratividade da renda fixa e levou muitos investidores a questionarem se ainda faz sentido investir em ações. A resposta, embora não seja simples, passa por um ponto central: o horizonte de investimento e a qualidade da seleção dos ativos.
O conceito de longo prazo: mais do que uma definição contábil
Do ponto de vista contábil, considera-se longo prazo qualquer investimento com vencimento superior a 12 meses. No entanto, no mercado financeiro, essa definição é insuficiente.
Para investimentos em renda variável, o conceito de longo prazo precisa ser ampliado. Uma análise minimamente consistente exige ao menos três anos, período suficiente para atravessar diferentes ciclos econômicos, variações de juros, inflação e movimentos de mercado. Neste estudo, adotamos um horizonte ainda mais conservador: 48 meses (4 anos).
A comparação: Ibovespa x CDI
Ao observar o desempenho agregado do mercado, o resultado pode parecer decepcionante para quem defende ações como classe de ativos superior.
Entre dezembro de 2021 e dezembro de 2025:
Ibovespa: +52,01%
CDI: +60,79%
Ou seja, olhando apenas para o índice de referência da bolsa, a renda fixa venceu com certa folga no período. Esse dado, isoladamente, reforça a percepção de que “ações não compensam” em ambientes de juros altos.
Mas essa conclusão ignora um ponto essencial.
O que realmente importa: o portfólio, não o índice
O Ibovespa é um índice amplo, com forte concentração em setores específicos, empresas estatais e companhias altamente cíclicas. Ele não representa, necessariamente, uma boa carteira de investimentos.
Na prática, o retorno do investidor é determinado pela seleção dos ativos, pela disciplina de alocação e pela capacidade de manter uma estratégia ao longo do tempo.
Quando analisamos uma carteira estruturada com foco em:
geração recorrente de caixa
empresas com histórico consistente de dividendos
governança e previsibilidade operacional
diversificação setorial
rebalanceamentos periódicos
o resultado muda de forma significativa.
O caso da Carteira de Dividendos
Usando como referência uma carteira focada em empresas pagadoras de dividendos, com gestão ativa e critérios fundamentalistas, o desempenho no mesmo período foi:
Carteira de Dividendos: +117,87% em 48 meses
Ou seja, praticamente o dobro do CDI e mais que o dobro do Ibovespa no mesmo intervalo.
Esse resultado evidencia um ponto fundamental:
não é a classe de ativo que define o retorno, mas a forma como ela é utilizada.
A lição para o investidor
Juros altos não eliminam as oportunidades na bolsa — eles apenas elevam o nível de exigência.
Em momentos como o atual:
empresas frágeis ficam mais expostas,
modelos de negócio ruins são penalizados,
mas companhias sólidas seguem gerando valor.
O investidor que adota visão de longo prazo, mantém disciplina e foca em fundamentos tende a capturar ganhos que vão além do retorno nominal da renda fixa.
Conclusão
A renda fixa é (e continuará sendo) um excelente instrumento de proteção e previsibilidade.
Mas os dados mostram que é perfeitamente possível superá-la com ações, desde que:
o horizonte seja adequado,
a carteira seja bem construída,
e o investidor entenda que o retorno vem da estratégia, não do índice.
Em investimentos, mais importante do que “onde investir” é como investir.
*Coluna escrita por Marco Saravalle, mestre em Finanças e estrategista chefe da MSX
*As opiniões transmitidas pelo colunista são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a opinião da BM&C News.
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