A indústria química brasileira, um dos pilares estruturais da economia nacional, entra em 2026 diante de um cenário de risco para produção, investimentos e empregos. Com o encerramento do Regime Especial da Indústria Química (Reiq) e a entrada em vigor do Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq) apenas a partir de 2027, o setor pode enfrentar um vácuo de política industrial em um momento de elevada pressão competitiva.
O setor químico é hoje a sexta maior indústria química do mundo e ocupa posição central na economia brasileira. O faturamento anual ultrapassa US$ 160 bilhões, o segmento responde por um dos maiores PIBs industriais do país e figura entre os principais arrecadadores de tributos federais. Além disso, emprega cerca de 2 milhões de trabalhadores direta e indiretamente, com forte concentração de empregos qualificados e intensivos em tecnologia.
Quando a indústria química perde espaço, toda a cadeia sente
Apesar desse peso econômico, a indústria convive com sinais claros de perda de competitividade. Dados setoriais indicam ociosidade média superior a 35% nas plantas industriais, crescimento expressivo das importações e redução da participação da produção nacional no mercado interno. O cenário é agravado pelo custo elevado de energia, gás natural e matérias-primas, além da concorrência internacional em condições consideradas assimétricas.
O impacto desse movimento vai além do próprio setor químico. Trata-se de uma indústria transversal, fornecedora de insumos essenciais para cadeias como agronegócio, saúde, alimentos, higiene e limpeza, construção civil, embalagens, automotiva e bens de consumo. Quando a produção química perde espaço, o efeito se propaga por toda a economia, pressionando custos, investimentos e competitividade de outros setores industriais.
Presiq cria incentivo estrutural, mas deixa lacuna em 2026
A recente sanção do Presiq estabeleceu um novo marco de incentivos a partir de 2027, com créditos financeiros condicionados ao orçamento federal e voltados à compra de insumos e à modernização de plantas industriais. O desenho do programa é visto como uma solução estrutural de médio prazo, mas não resolve o desafio imediato do próximo ano.
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria Química reconheceu o avanço institucional do novo programa, mas alertou para os desafios no curto prazo.
“A sanção endereça a solução do tema a partir de 2027, pendente da regulamentação prevista para os próximos 90 dias. No entanto, a competitividade do setor não está equacionada para 2026”, afirma André Passos, presidente-executivo da Associação.
Importações em alta podem afetar investimentos e empregos
A avaliação do setor é de que, sem medidas de transição, o Brasil pode aprofundar a dependência de importações justamente em um segmento estratégico para a agregação de valor e para a sustentação da base industrial. A perda de produção local tende a reduzir investimentos, afetar empregos e ampliar a vulnerabilidade da economia a choques externos.
Para analistas, o debate em torno da indústria química vai além de um programa setorial. Está diretamente ligado à capacidade do país de preservar densidade industrial, manter cadeias produtivas integradas e sustentar crescimento econômico com maior valor agregado. Em um cenário global cada vez mais competitivo, o risco de atravessar 2026 sem instrumentos de política industrial para o setor passa a ser um fator relevante para a trajetória da economia brasileira.

