A trajetória recente do petróleo, negociado abaixo de US$ 60 em alguns momentos, não é apenas um movimento pontual de mercado. Para o economista Bruno Corano, o cenário indica um período prolongado de preços mais baixos, que pode se estender ao longo de 2026, refletindo uma combinação de fatores estruturais ligados à demanda global, à oferta americana e ao estágio avançado do ciclo econômico.
Segundo Corano, embora o mercado tenha reagido inicialmente a eventos geopolíticos, como a tentativa de mediação de conflitos internacionais por parte de Donald Trump, o principal vetor de pressão sobre a commodity hoje é econômico.
“A correlação é muito menos geopolítica e muito mais ligada ao desaquecimento da demanda”, afirmou.
Demanda global enfraquecida limita recuperação do petróleo
Na avaliação do economista, a economia global caminha para uma fase de acomodação, com crescimento mais fraco e menor consumo de energia. A China, tradicional motor da demanda por petróleo, segue decepcionando, enquanto Estados Unidos e Europa enfrentam um ambiente de juros ainda elevados e crescimento moderado.
“Se a economia global não se recuperar fortemente e não houver conflitos bélicos relevantes, não existe motivo para o petróleo subir de forma significativa”, disse Corano.
Mesmo em um cenário de alguma recuperação, ele avalia que os preços dificilmente se sustentariam muito acima de US$ 70.
Produção recorde dos EUA reduz dependência internacional
Outro fator estrutural destacado é a produção americana. Os Estados Unidos seguem batendo recordes de produção individual de petróleo, o que reduz a dependência internacional e adiciona pressão sobre os preços globais. Esse movimento limita a capacidade da Opep de sustentar cotações mais elevadas apenas por meio de cortes de oferta.
“Existem inúmeros motivadores que fogem do controle da Opep. Os EUA hoje são os maiores produtores e isso muda completamente a dinâmica do mercado”, afirmou.
Petróleo mais barato ajuda a inflação global
Corano destaca que a queda do petróleo tem efeitos relevantes sobre a inflação, especialmente nos Estados Unidos. Para uma economia que ainda convive com uma inflação considerada incômoda para seus padrões históricos, o recuo da commodity funciona como um amortecedor importante.
Esse alívio inflacionário tende a se espalhar globalmente, beneficiando inclusive economias emergentes como o Brasil.
“É mais um pequeno amparo para que, globalmente, a gente consiga trabalhar com taxas de juros menores”, explicou.
Um “temporário de longo prazo”
Apesar da classificação de movimento temporário, Corano faz uma ressalva importante: trata-se de um temporário de longo prazo. Na visão dele, o ciclo econômico global se aproxima do fim, com 2026 desenhando um cenário de crescimento lateral ou até de contração.
“Essa acomodação é algo que o mercado já espera há pelo menos três anos. Uma hora ela chega”, afirmou.
O economista avalia que a correção deve começar pelos ativos financeiros, especialmente o mercado acionário americano, e se espalhar para o restante da economia.
Expectativa para 2026: petróleo sem força para alta consistente
Diante desse quadro, Corano considera improvável que o petróleo encontre espaço para uma valorização relevante até pelo menos 2026. Mesmo eventuais repiques devem ser limitados e de curta duração, enquanto persistirem o excesso de oferta, a demanda enfraquecida e o processo de ajuste do ciclo econômico global.
“É muito difícil enxergar o petróleo apreciando de forma consistente nesse horizonte”, concluiu.












