A ata mais recente do Copom reforçou a sinalização de que a taxa básica de juros, a Selic deverá permanecer em nível elevado por mais tempo, praticamente fechando a porta para um corte já em janeiro. A avaliação é de que, apesar de sinais pontuais de desaceleração da atividade, o cenário inflacionário ainda exige cautela adicional.
Em entrevista à BM&C News, o economista Ecio Costa afirmou que a postura do Banco Central não reflete excesso de conservadorismo, mas sim uma reação direta ao ambiente fiscal doméstico.
“A política monetária tem produzido efeitos positivos sobre a inflação, mas esses avanços vêm sendo parcialmente neutralizados por estímulos fiscais contínuos“, avalia.
Ata do Copom mais firme e os impactos nos setores
De acordo com a leitura da ata do Copom, setores mais sensíveis ao custo do crédito, como indústria e parte do agronegócio, já mostram perda de ritmo. Em contrapartida, o setor de serviços segue operando em nível elevado, sustentado por expansão fiscal, transferências de renda e um mercado de trabalho ainda pressionado. Esse descompasso mantém a inflação de serviços resistente, mesmo com alívio mais rápido nos preços de bens.
“Embora a inflação de produtos apresente desaceleração acima do esperado, o comportamento do mercado de trabalho continua dificultando a convergência inflacionária. As projeções do próprio Copom indicam inflação acima da meta de 3% no horizonte de 2027, o que justifica a manutenção de uma política contracionista prolongada e a possibilidade de novas elevações de juros, caso haja repiques inflacionários.“, analisa.
Banco Central mais pragmático
O economista também chamou atenção para a postura pragmática do Banco Central na comunicação. Para ele, o esforço em sinalizar com clareza o caminho da política monetária tem como objetivo preservar a credibilidade da instituição, especialmente diante das dúvidas do mercado sobre a autonomia da atual diretoria, composta majoritariamente por indicados do governo Lula.
Apesar dos sinais recentes de desaceleração da atividade, como a queda do IBC-Br e a retração do setor de serviços nos últimos dois meses, o cenário fiscal segue como fator central de risco. Medidas aprovadas pelo Congresso que ampliam despesas fora do arcabouço fiscal, além da elevação das projeções para a dívida pública acima de 80% do PIB em 2026, tornam o ambiente menos favorável para uma flexibilização dos juros.
“Esse conjunto de fatores reduz o espaço tanto para a queda da Selic quanto para o recuo dos juros longos, mantendo o custo do capital elevado em um momento de crescente incerteza econômica e política“, conclui.













