O Brasil voltou a liderar o grupo de países com juros reais mais altos do mundo. O novo Ranking Mundial de Juros Reais, divulgado pela MoneYou e Lev Intelligence nesta quarta-feira (10), mostrou que o país ocupa a 2ª posição, com juro real de 9,44%, muito acima da média global.
O resultado consolida a leitura de que o país segue preso a uma combinação conhecida: inflação teimosa, desconfiança fiscal e política monetária extremamente contracionista.
O cálculo considera a taxa DI de 12 meses, atualmente em torno de 15%, descontada da inflação projetada de 4,06% pelo Focus. Para os autores, a escolha do DI em vez da Selic reflete mais fielmente o juro enfrentado pela economia real.
Juros reais elevados: risco fiscal impede queda dos juros e mantém o Brasil como exceção
Segundo o relatório, a posição incômoda do Brasil no topo do ranking está diretamente conectada ao ambiente fiscal frágil, que aumenta os prêmios exigidos pelo mercado e gera incerteza sobre a trajetória da dívida pública.
Mesmo com alívio em alguns componentes da inflação e queda recente do dólar global, o documento descreve um cenário em que o país não consegue se beneficiar do ciclo de flexibilização observado em outras economias. Em 166 países monitorados, mais da metade reduziu juros neste ano, mas o Brasil permanece na direção oposta.
Brasil também tem o 4º maior juro nominal do planeta
Além de ocupar posição de destaque no ranking, o Brasil aparece como 4º maior juro nominal do mundo, com taxa de 15% ao ano. À frente estão apenas Turquia (39,5%), Argentina (29%) e Rússia (16,5%). A média global é de 5,43%.
Esse descolamento reforça a percepção de que a política monetária brasileira segue entre as mais duras, com impacto direto no crédito, nos investimentos e no ritmo da economia.
Por que o Brasil segue travado nos juros reais altos
O relatório sugere três fatores estruturais que explicam por que o país permanece com juros tão elevados:
1. Fiscal imprevisível
A falta de clareza sobre a trajetória das contas públicas aumenta os prêmios na curva de juros e limita qualquer flexibilização da política monetária.
2. Inflação ainda resistente
Apesar de algum alívio, componentes importantes do IPCA continuam pressionados.
3. Economia global incerta
A comunicação do Federal Reserve adicionou volatilidade aos mercados, mas o problema brasileiro, segundo o levantamento, é interno.
Brasil segue pagando o preço do desequilíbrio fiscal
Os números do ranking deixam claro que o país permanece em um patamar de juros reais incompatível com crescimento sustentado. Mesmo olhando para frente, seja com corte, manutenção ou alta, o Brasil continuaria no topo de um ranking que reflete mais desconfiança fiscal do que virtudes monetárias.
Até que o governo avance em medidas estruturais de controle de gastos e credibilidade, o juro real continuará alto demais e o Brasil, sozinho demais.












