O avanço acelerado das empresas de tecnologia e inteligência artificial (IA) nos Estados Unidos levanta questionamentos sobre a sustentabilidade do ciclo de alta. Mesmo com resultados robustos, parte do mercado teme um ambiente de maior alavancagem e possíveis correções.
Para Fabio Fares, especialista em análise macro, esse movimento deve ser interpretado como algo natural e não como sinal de bolha.
IA continua impulsionando resultados, mas ciclos de euforia e correção são inevitáveis
Fares lembra que, em mercados impulsionados por tecnologias disruptivas, correções são parte do processo. Ele cita a bolha.com como exemplo: empresas sem eficiência foram deixando o mercado enquanto gigantes como Google e Microsoft se consolidaram.
“Nesse mercado onde você tem uma tecnologia disruptiva, muita coisa nova aparece, você tem picos de euforia que vão ser seguidos de correção”, afirma.
Segundo ele, a comparação com os anos 2000 não se aplica totalmente ao cenário atual. Há muito mais capital entrando em IA e um pipeline de inovações consistente, o que difere de ciclos especulativos sem fundamentos.
Valuation das gigantes ainda encontra espaço
O especialista destacou que as chamadas sete magníficas, que incluem empresas como Nvidia, Microsoft, Amazon e Meta, negociam hoje com múltiplos de preço-lucro melhores do que muitos setores tradicionais, como varejo físico.
Ele provocou:
“A Nvidia está custando a mesma coisa que um Walmart olhando lucro de 2027. Você vai investir em quem?”
Para Fares, essa discussão mostra que ainda há fundamento para justificar valuations elevados, desde que baseados em perspectivas de longo prazo.
Tecnologia e cripto: correções sincronizadas não significam crise
Sobre a correção simultânea entre techs e cripto, Fares acredita que grande parte dessa percepção é inflada pelo noticiário:
“É tudo clickbait. Hoje vender pânico dá muito dinheiro.”
Ele reforça que investidores devem se concentrar em dados e resultados, não em ruído.
E os números são fortes:
- 9 dos 11 setores do S&P 500 cresceram dois dígitos em lucro e receita no último trimestre;
- Os dois setores que cresceram menos ainda apresentaram avanços entre 7% e 8%, acima da média histórica;
- Margens corporativas subiram 2,2%, o dobro da média de 20 anos.
IA e biotecnologia avançam em ritmo inédito
Fares destacou que diversos setores estão sendo impulsionados por IA, biotecnologia e novas plataformas tecnológicas.
Ele cita o caso recente de um jovem que desenvolveu uma prótese biônica utilizando ferramentas de IA por US$ 400, enquanto o custo médio convencional passa de US$ 10 mil.
“A IA vai trazer acesso a coisas que a gente nem imaginava, a custo muito baixo.”
Fundos globais como os de Stanley Druckenmiller e Ray Dalio têm aumentado posições em biotecnologia, reforçando o potencial do setor.
Riscos no horizonte: energia e crédito
Apesar do otimismo com IA, Fares alerta para dois riscos:
1. Energia
A demanda por capacidade energética cresce mais rápido que a infraestrutura disponível nos EUA.
“Existe uma demanda enorme para uma capacidade muito pequena.”
2. Crédito
A euforia abriu espaço para empresas emitirem grande volume de dívidas.
Se o mercado desacelerar enquanto juros permanecem altos, isso pode gerar estresse no sistema:
“Se a gente tem um aperto de juros e o mercado vai devagar, podemos ter crise de crédito e crise de crédito derruba tudo.”
Para Fares, o mercado de IA, tecnologia e cripto deve sim passar por correções, mas dentro de um ciclo saudável de maturação, longe da narrativa de “bolha”.
Com resultados fortes e fluxo de capital contínuo, o desafio agora é monitorar energia e crédito, pontos que podem determinar o ritmo de expansão das big techs e de empresas emergentes.













