A guerra entre Rússia e Ucrânia ultrapassou quatro anos e chega a um momento em que os principais atores internacionais começam a recalcular as próprias prioridades. Na entrevista concedida ao BM&C News, o professor de Relações Internacionais, Marcus Vinicius de Freitas, afirmou que o conflito vive um impasse estrutural, com “baixa probabilidade de um acordo avançar no curto prazo”.
Segundo ele, a Rússia não se vê em posição de derrota, enquanto a Ucrânia enfrenta desgaste político, militar e econômico. Do lado ocidental, há sinais de mudança no eixo de atenção, especialmente nos Estados Unidos, sob o governo Donald Trump, que tem revisto o nível de engajamento no conflito.
EUA diminuem foco no conflito entre Rússia e Ucrânia
De Freitas destacou que Washington demonstra “menor interesse em sustentar a guerra indefinidamente”, especialmente diante dos custos crescentes e das preocupações com estoques de armamentos e minerais estratégicos utilizados pela indústria de defesa.
Para o professor, Trump tem buscado redirecionar a estratégia geopolítica norte-americana. “Os Estados Unidos passam por um desengajamento global porque entendem que o foco deve ser em regiões onde há ameaças maiores, especialmente a Ásia”, afirmou.
Esse reposicionamento afeta diretamente a capacidade de Kiev de manter a resistência no longo prazo.
Europa enfrenta desgaste interno e menor capacidade de apoio
A Ucrânia também convive com o enfraquecimento econômico e político de seus aliados europeus. De acordo com o professor, líderes do continente lidam com:
- baixa popularidade;
- economias fragilizadas;
- e uma população cansada de anos de guerra.
Esse ambiente reduz a margem de ação diplomática e militar da União Europeia, que tenta manter apoio, mas enfrenta limitações práticas.
Plano de paz dos EUA é visto como favorável à Rússia
O plano de paz entre Rússia e Ucrânia discutido recentemente, reproduziria propostas já apresentadas por Moscou e rejeitadas por Kiev. De Freitas avalia que isso reforça a percepção de desequilíbrio nas negociações.
“Esse plano contempla muito maiores benefícios para a Rússia do que para a própria Ucrânia”, explicou.
Para o professor, o fato reflete o cenário militar atual, em que Moscou consolidou ganhos territoriais que dificilmente seriam revertidos por meios convencionais.
Sanções não impediram a continuidade da produção de petróleo russo
Ao analisar impactos econômicos da guerra, Marcus Vinicius de Freitas afirmou que as sanções energéticas contra Moscou “não impediram” o país de continuar exportando petróleo.
Rússia encontrou rotas alternativas por meio de China, Índia, e outros intermediários que revendem petróleo a mercados europeus de forma indireta.
“Seria ingenuidade dizer que os russos pararam de produzir petróleo por causa das sanções”, disse.
Ele também ressaltou que o petróleo tem preço político, influenciado por instabilidade global, decisões da Opep e políticas energéticas de grandes potências.
Guerra de desgaste e limites estratégicos
Para o professor, a Ucrânia enfrenta um dilema crescente: manter a resistência militar diante de um adversário nuclearmente armado e com logística superior, ou aceitar negociações que impliquem perdas territoriais, algo que Kiev tem rejeitado.
De Freitas lembrou que, no início da guerra, uma possibilidade de acordo existiu, mas foi interrompida por decisões externas. “Se o processo de paz tivesse sido acertado logo no início, sem a intervenção de Boris Johnson, a situação seria completamente diferente”, afirmou.
Impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre Donald Trump
Como mediador autodeclarado, Trump enfrenta testes de imagem. Questionado sobre a possibilidade de desgaste caso o acordo não avance, o professor avaliou que isso não altera significativamente a percepção interna sobre o presidente norte-americano.
“Ele prometeu acabar a guerra em um dia, mas já se passou quase um ano. Muitas iniciativas anunciadas não se concretizaram, mas isso já faz parte do comportamento esperado do eleitorado”, analisou.
Mercado de petróleo e inflação global
De Freitas também comentou expectativas de que um eventual acordo possa aliviar preços do petróleo e, por consequência, pressões inflacionárias em diversos países.
Apesar disso, ressaltou que a commodity continuará sujeita a fatores estruturais:
- transição energética;
- avanço de veículos elétricos;
- debates sobre o papel do dólar no comércio global de energia.
Análise da guerra entre Rússia e Ucrânia
As análises do professor Marcus Vinicius de Freitas apontam para um cenário em que:
- a Rússia consolidou ganhos,
- a Ucrânia enfrenta limitação estratégica,
- a Europa perdeu fôlego político,
- e os EUA redirecionam foco para a Ásia.
Com esses elementos combinados, o conflito tende a continuar sem solução imediata, e os impactos seguem atingindo mercados como energia, comércio internacional e estabilidade política global.













