A taxa de desocupação no trimestre móvel encerrado em outubro de 2025 caiu para 5,4%, repetindo o menor nível da série histórica iniciada em 2012. Os dados da Pnad, divulgados nesta sexta-feira (28) pelo IBGE, confirmam a trajetória de melhora contínua no mercado de trabalho, mesmo com sinais recentes de desaceleração da atividade econômica.
O resultado representa queda de 0,2 ponto percentual em relação ao trimestre encerrado em junho (5,6%) e recuo de 0,7 p.p. frente ao mesmo período de 2024, quando o desemprego era de 6,2%.
População desocupada tem menor nível desde 2012, segundo PNAD
A população desocupada caiu para 5,9 milhões de pessoas, o menor contingente já registrado pela PNAD Contínua. Houve redução tanto na comparação trimestral (-207 mil) quanto anual (-788 mil). Já a população ocupada permaneceu estável em 102,5 milhões, patamar recorde da série.
O nível de ocupação ficou em 58,8%, e o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado renovou o recorde, alcançando 39,182 milhões.
Segundo Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, “o elevado contingente de pessoas ocupadas nos últimos trimestres contribui para a redução da pressão por busca por ocupação e, como resultado, a taxa de desocupação segue em redução”.
Subutilização também atinge menor nível da série
A taxa composta de subutilização da força de trabalho ficou em 13,9%, a menor já registrada. O número de pessoas subocupadas por insuficiência de horas caiu para 4,572 milhões, o menor volume desde 2016.
A força de trabalho potencial recuou para 5,2 milhões, menor nível desde 2015. Durante a pandemia, esse contingente chegou a 13,8 milhões no trimestre encerrado em julho de 2020. A população desalentada também diminuiu, chegando a 2,647 milhões, menos da metade do pico observado em 2021.
Setores mostram desempenho desigual, mostra PNAD
A estabilidade geral do emprego no trimestre esconde dinâmicas distintas entre setores. Frente ao trimestre móvel anterior, cresceram:
- Construção: +2,6% (+192 mil)
- Administração pública, educação, saúde e serviços sociais: +1,3% (+252 mil)
Houve queda em Outros serviços, com retração de 2,8% (-156 mil).
Na comparação anual, destaque para:
- Transporte, armazenagem e correio: +3,9% (+223 mil)
- Administração pública e serviços sociais: +3,8% (+711 mil)
Por outro lado, os grupamentos de Outros serviços e Serviços domésticos tiveram queda de 3,6% e 5,7%, respectivamente.
Informalidade estabiliza, enquanto emprego formal renova recordes
A taxa de informalidade permaneceu em 37,8%, o equivalente a 38,7 milhões de trabalhadores. Na comparação anual, houve redução frente aos 38,9% registrados em outubro de 2024.
O emprego formal segue em trajetória de expansão. Além do recorde no setor privado, o número de empregados no setor público atingiu 12,9 milhões, crescimento de 2,4% em um ano.
Entre os trabalhadores informais:
- Empregados sem carteira no setor privado: 13,6 milhões (estável no trimestre; -550 mil no ano)
- Conta própria: 25,9 milhões (estável no trimestre; +771 mil no ano)
Renda volta a bater recorde
A massa de rendimento real atingiu R$ 357,3 bilhões, um novo recorde histórico, com alta de 5% no ano. O rendimento médio real habitual também ficou estável no trimestre, mas cresceu 3,9% em relação a 2024.
Setores com maior alta de rendimento anual incluem:
- Agropecuária: +6,2%
- Construção: +5,4%
- Alojamento e alimentação: +5,7%
- Informação, comunicação e serviços financeiros e administrativos: +5,2%
- Administração pública e serviços sociais: +3,5%
- Serviços domésticos: +5,0%
Para o IBGE, o conjunto de elevada ocupação e estabilidade dos rendimentos explica os valores recordes da massa salarial.
Embora o número de ocupados e a taxa de informalidade permaneçam estáveis, o conjunto dos indicadores aponta para um mercado de trabalho ainda firme, mas com ritmo mais moderado de expansão. O fechamento de outubro consolida o cenário de menor desocupação da série, com força de trabalho mais ajustada e crescimento contínuo da massa salarial.
Visão do ASA sobre o mercado de trabalho
Para Leonardo Costa, economista do ASA, os dados da PNAD Contínua mostram que o mercado de trabalho começa a sinalizar os primeiros efeitos da desaceleração da atividade econômica, ainda que de forma lenta. Ele destaca que a população ocupada registrou a terceira queda consecutiva na série com ajuste sazonal, enquanto a taxa de desocupação permaneceu estável em 5,8%, ligeiramente acima do piso de 5,7% observado no meio do ano.
“Os resultados por setor revelam um quadro praticamente estável, com pequenas altas em construção e administração pública e queda em “outros serviços””, aponta Costa. Apesar disso, ele destaca que a informalidade segue em 37,8% e que tanto o rendimento real habitual quanto a massa salarial seguem renovando recordes, sustentados por ganhos reais relevantes na comparação anual.
Para o economista, o conjunto dos dados indica que o mercado de trabalho continua apertado, mas os sinais de moderação vêm se acumulando, refletindo a defasagem típica entre desaceleração da economia e seus impactos no emprego.
“Dado não foi tão bom quanto o número sugere”, avalia economista
Já segundo o economista Maykon Douglas, os números da PNAD trazem sinais mistos. Ele avalia que a queda na taxa de desemprego não foi resultado de maior ocupação, mas sim de uma leve retração na taxa de participação, reduzindo a pressão por busca de trabalho. “O resultado não foi tão bom quanto o número sugere“, avalia.
Douglas destaca, por outro lado, que a massa salarial atingiu nova máxima histórica, com alta real de 4,2% na comparação anual, apesar de mostrar alguma desaceleração.
Para ele, o dado de desemprego se soma ao Caged de ontem, com geração líquida de postos de trabalho aquém do esperado, e reforça a recente moderação no mercado de trabalho doméstico. “Porém, sigo com a visão de que essa moderação será lenta, o que evita a desinflação veloz da inflação mais sensível à demanda.” Sua projeção atual é de uma taxa de desemprego de 5,7% no fim do ano, com ajuste sazonal.














