Vivemos em um país no qual a polarização leva muitos líderes a confundirem a cena política com uma mesa de pôquer. Nesta sequência de jogadas, parece haver um só movimento por parte dos jogadores – o “all in”, aquele lance em que se parte para o tudo ou nada. Ocorre que, de partida em partida, os oponentes vão dobrando sua aposta constantemente, elevando os riscos e criando instabilidades crescentes.
Depois da prisão de Jair Bolsonaro, no final de semana, o deputado Eduardo Bolsonaro deu a seguinte declaração: “Moraes, eu vou trabalhar o resto da minha vida inteira para provar os crimes que você cometeu. […] Pode prender meu pai aí, talvez vá condená-lo à morte, lamento. […] Se você acha que aqui a gente vai parar, eu te garanto: a gente vai dobrar a aposta, porque a gente sabe como você é”. Para arrematar, golpeou abaixo da linha da cintura: “Sem a sua caneta, você é uma mariquinha”.
Entende-se a revolta do deputado. Mas seu comportamento mostra um ímpeto que pode afastá-lo de seus objetivos. O clã Bolsonaro se vê em guerra contra um adversário poderoso, o ministro Alexandre de Moraes. Mas adota táticas de confronto que não levam a lugar nenhum. Dobrar a aposta contra Moraes não parece funcionar, pois o juiz reage da mesma forma. Se nem a Lei Magnitsky conseguiu contê-lo, não é pela agressividade que se vai conseguir alguma coisa.
A impressão que se tem é que Eduardo Bolsonaro age como militares afoitos e vaidosos, como o general póstumo George Custer. A lembrança da Batalha de Little Bighorn ajuda a ilustrar esse ímpeto. Em 1876, o então tenente-coronel George Armstrong Custer acreditou que poderia derrotar facilmente as forças indígenas que enfrentava. Avançou com confiança desmedida, ignorando sinais de que o inimigo era numeroso e bem-preparado.
O resultado foi uma derrota fulminante que o transformou em figura lendária apenas depois da morte, um general póstumo cuja fama nasceu do fracasso. Eduardo Bolsonaro, ao dobrar suas apostas contra Alexandre de Moraes, corre o risco de repetir esse padrão. A bravata rende manchetes e notoriedade, mas a estratégia conduz a um impasse que pode se converter em derrota política.
A família Bolsonaro e seus seguidores mais extremados parecem seguir esta regra de comportamento: mais importante do que vencer a batalha é fustigar o adversário e desopilar o fígado. Acontece que esta é uma contenda política, não uma briga de rua. Em um momento como esse, é preciso compreender o contexto e traçar estratégias vencedoras. Mas Eduardo e seus irmãos estão apenas cutucando o inimigo com a vara curta.
Uma frase atribuída ao cientista Albert Einstein define loucura como o ato de fazer repetidamente a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Em sua queda de braço com Alexandre de Moraes, o clã Bolsonaro repetiu os mesmos golpes desde o primeiro round. E perdeu todos.
No entanto, política não se vence com bravatas nem com apostas dobradas, mas com inteligência estratégica e capacidade de construir alianças. Persistir em repetir os mesmos erros apenas reforça a imagem de um grupo que confunde coragem com imprudência. Se a lição de Custer ainda ecoa como advertência histórica, o clã Bolsonaro parece disposto a ignorá-la, preferindo o fácil espetáculo da derrota ao tortuoso e difícil caminho da vitória.
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