A Embraer (EMBJ3) registrou um lucro líquido ajustado de R$ 289,4 milhões no terceiro trimestre de 2025, conforme balanço divulgado nesta terça-feira (4). O resultado representa uma queda expressiva em relação aos R$ 1,22 bilhão obtidos no mesmo período do ano anterior, refletindo o desempenho mais fraco nas divisões de Aviação Executiva e Serviços & Suporte. Apesar da retração nos números, a companhia manteve uma estrutura de capital robusta e controle sobre sua alavancagem financeira.
O Ebitda ajustado, que mede o resultado operacional antes de juros, impostos, depreciação e amortização, somou R$ 1,27 bilhão, abaixo do R$ 1,64 bilhão registrado no trimestre. A Ebitda ajustada ficou em 11,7%, frente a 21,1% no mesmo trimestre do ano anterior. Já o Ebit ajustado caiu para R$ 927,2 milhões, enquanto a margem Ebit ajustada passou de 17,6% para 8,5%.
O que explica a queda nos resultados da Embraer?
Segundo o relatório da empresa, o resultado foi impactado principalmente pela menor performance operacional nos segmentos de Aviação Executiva e Serviços & Suporte. Além disso, o terceiro trimestre de 2024 contou com um item não recorrente de US$ 150 milhões referente a um acordo de arbitragem com a Boeing, que havia impulsionado as margens em cerca de 900 pontos-base. Também houve despesas adicionais de US$ 17 milhões com tarifas de importação nos Estados Unidos.
Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, os números mais fracos refletem a dinâmica específica da fabricante de aeronaves. “A Embraer tem uma lógica diferente das demais companhias. O mercado olha mais para a esteira de pedidos e para a capacidade de entrega. Ela prefere atrasar entregas para garantir qualidade e evitar problemas futuros de manutenção. Isso ajuda a entender por que o resultado financeiro veio mais fraco neste trimestre”, afirmou.
Cruz ressalta ainda que, apesar da queda no lucro e nas margens, não houve deterioração estrutural nas finanças da companhia. “O endividamento não mudou muito. O perfil da dívida segue saudável, com prazo médio de 5,9 anos e 96% de estrutura de longo prazo. O custo médio dos empréstimos caiu para 6,33% ao ano. Em dólar, a empresa se desalavancou de quatro vezes o Ebitda em 2021 para 0,1 vez agora. Ela tem caixa suficiente para cobrir compromissos até 2034”, destacou o economista, que avalia que o mercado pode reagir negativamente no curto prazo diante da fraqueza operacional, mas reconhece a consistência financeira da Embraer.
Receita cresce e entregas avançam
No trimestre, a Embraer registrou receita líquida de R$ 10,9 bilhões, um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano anterior. O crescimento foi impulsionado pela retomada das exportações e pela ampliação da produção na Aviação Comercial. Ao todo, a companhia entregou 62 aeronaves, sendo 20 jatos comerciais, 41 jatos executivos e 1 aeronave de defesa, número 5% superior ao do mesmo trimestre do ano anterior.
As entregas da Aviação Comercial cresceram 25% na comparação anual, enquanto a Aviação Executiva manteve-se estável. O ritmo de produção segue ajustado à demanda e à estratégia de garantir padrões de qualidade mais elevados, uma política que reforça a reputação da fabricante no setor aeronáutico global.
Embraer mantém guidance e aposta em crescimento gradual
Mesmo com a queda na rentabilidade, a Embraer reiterou suas projeções para 2025. A empresa espera entregar entre 77 e 85 aeronaves comerciais e de 145 a 155 jatos executivos ao longo do ano. As estimativas apontam para uma receita entre US$ 7,0 e US$ 7,5 bilhões, margem EBIT ajustada entre 7,5% e 8,3% e fluxo de caixa livre ajustado de pelo menos US$ 200 milhões.
Com fundamentos sólidos, caixa robusto e endividamento sob controle, a Embraer segue bem posicionada para manter seu ritmo de expansão de entregas e rentabilidade nos próximos trimestres. Apesar do resultado mais fraco, analistas avaliam que a empresa sustenta um perfil financeiro consistente e uma estratégia de longo prazo focada em eficiência e geração de valor.
Para o mercado, o foco agora recai sobre a recuperação das margens nos próximos trimestres e sobre a capacidade da companhia de converter sua carteira de pedidos em resultados mais expressivos, à medida que o setor aeronáutico global se normaliza.