O Bradesco (BBDC4) apresentou lucro líquido recorrente de R$ 6,2 bilhões no terceiro trimestre de 2025, um avanço de 18,8% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 2,3% frente ao trimestre anterior. O resultado, divulgado nesta quarta-feira (29), veio ligeiramente abaixo das projeções da MSX Invest, que esperava uma performance operacional um pouco mais robusta, o que pode gerar reação de viés negativo no pregão.
O retorno sobre o patrimônio (ROAE) atingiu 14,7%, ante 14,6% no trimestre anterior e 12,4% no mesmo período de 2024. Segundo o banco, o desempenho foi sustentado por margens financeiras sólidas e pelo bom resultado da área de seguros, compensando parcialmente o aumento leve do custo de crédito e as despesas dentro do planejado.
Transformação segue em curso no Bradesco
O Bradesco destacou a transformação:
No terceiro trimestre do ano, demos mais um passo no incremento da nossa rentabilidade. Continuamos com a mesma tração comercial, mantendo os indicadores de inadimplência sob controle, priorizando o retorno ajustado ao risco. A transformação avança, dando sustentação à
nossa evolução e reforçando a nossa competitividade de longo prazo.
De acordo com a MSX, o banco mantém trajetória de recuperação gradual e reforça a eficiência operacional em meio à transformação digital. As receitas totais alcançaram R$ 35 bilhões, com alta de 13,1% na comparação anual, e a margem financeira somou R$ 18,7 bilhões, crescimento de 16,9% em relação ao terceiro trimestre de 2024.
A carteira de crédito expandida chegou a R$ 1,03 trilhão, aumento de 9,6% em um ano, com destaque para o avanço de 13,8% nas linhas voltadas a pessoas físicas e de 9% para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs). A inadimplência acima de 90 dias ficou estável em 4,1%, com melhora no segmento de MPMEs. O índice de capital principal (CET1) permaneceu em 11,4%, dentro dos limites regulatórios.
“Resultado consistente, mas sem catalisadores”, diz Saravalle
Para Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, o resultado foi consistente, mas não apresentou gatilhos de curto prazo para valorização das ações. “O lucro veio em linha, mas sem grandes surpresas positivas que gerem impulso imediato. O desempenho do seguro foi um ponto forte, compensando parte da pressão do crédito. Ainda assim, o banco está no caminho certo, o foco agora é consistência nos próximos trimestres”, avaliou.
O analista destacou ainda que o controle de despesas e a resiliência do segmento de seguros sustentam a melhora gradual das margens. “Mantemos visão neutra no curto prazo, mas construtiva para 2026, com potencial de valorização se o ciclo de cortes de juros ajudar na reprecificação do setor”, completou.
Contexto macro e impacto das falas de Powell
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o balanço do Bradesco reforça o perfil tradicional de um banco com lucro de tesouraria, spread, seguros e serviços, operando com risco controlado e eficiência crescente. “O Bradesco está atingindo o que muitos analistas esperavam desde a troca de comando: um lucro recorrente de R$ 6,2 bilhões, crescimento de 2,3% no trimestre e 18,8% na comparação anual”, destacou.
Segundo ele, a rentabilidade de 14,7% “não surpreende, mas confirma a consistência do resultado”, com expansão da carteira de crédito para R$ 1,03 trilhão e inadimplência estável em 4,1%, mesmo em um ambiente de Selic elevada. Cruz ressaltou que a margem com clientes cresceu 4,8%, acima do avanço da carteira, o que elevou o spread médio de 8,8% para 9%, evidenciando o ganho de eficiência no funding. “Há pontos positivos claros no balanço: o Bradesco segue se blindando do aumento da inadimplência e mostra mudanças estruturais sólidas. É um resultado que deve agradar o mercado, mesmo sem o salto de rentabilidade que parte dos investidores esperava”, concluiu.
Com o avanço gradual das margens, o balanço demonstra consistência e execução disciplinada da estratégia traçada pela nova gestão, mas ainda carece de catalisadores de curto prazo que possam impulsionar as ações de forma mais significativa.