O Conselho de Estabilidade Financeira elevou o tom do alerta sobre vulnerabilidades nos mercados globais e o recado chega direto ao Brasil. O endividamento mundial segue elevado e a tensão entre Estados Unidos e China mantém a instabilidade em alta. Nesse cenário, a especialista financeira Adriana Melo, ressalta que o momento pede disciplina de caixa, leitura fria de dados e ação coordenada dentro das empresas para atravessar esse período turbulento no sistema financeiro.
O ambiente não sinaliza pânico imediato porém exige cautela constante. Adriana lembra que o VIX permanece acima do patamar de conforto e que correções bruscas de ativos podem ocorrer quando choques de liquidez se combinam com incertezas políticas e geoeconômicas. Além disso o custo de capital subiu e o crédito tornou-se mais seletivo o que impõe maior rigor na avaliação de projetos e na proteção do fluxo de caixa.
Sistema financeiro: crédito caro e seletivo pede estratégia aplicada ao dia a dia
Segundo Adriana, a fase de capital abundante ficou para trás e a prova está na seletividade dos investidores. O mercado cobra indicadores sólidos e planos executáveis que contemplem períodos de vacas magras. Por outro lado, a recomendação imediata é fortalecer a liquidez com foco em colchão de caixa e linhas já negociadas. Liquidez é liberdade de escolha em momentos de turbulência e permite testar iniciativas sem comprometer a operação.
Adriana sugere um tripé prático para navegar a instabilidade.
- Em primeiro lugar, simulações de cenários com precificação dinâmica e cláusulas contratuais que permitam reajustes quando tarifas ou fretes mudarem;
- Em segundo lugar, diversificação de fornecedores e de hubs logísticos para reduzir dependências críticas;
- Em terceiro lugar, integração de sistemas para que os dados internos virem insumo de decisão em tempo real. Dados confiáveis sustentam decisões melhores e evitam paralisia quando o ambiente muda.
Paralisia estratégica costuma ser tentadora em períodos de alta incerteza. Entretanto, Adriana defende agir com método e clareza sobre prioridades. Ela cita casos em que a digitalização apressada piorou a experiência do cliente e recomenda calibrar tecnologia ao problema real. Enquanto isso a empresa precisa garantir que seus sistemas conversem entre si e que as equipes leiam os mesmos indicadores de performance. A ação correta nasce de informação correta e de governança simples.
Novo sistema financeiro: os impactos para as empresas
Se o choque vier lá fora, o efeito chega primeiro no crédito, no custo de capital e no caixa. A orientação é proteger liquidez agora e revisar políticas de derivativos e câmbio em janelas curtas. Nesse sentido decisões geopolíticas ou mudanças na política de tarifas podem reprecificar o risco de forma abrupta. Por isso, Adriana recomenda observar de perto a divulgação de resultados das companhias e manter planos de contingência testados para diferentes níveis de câmbio e juros.
O país detém ativos estratégicos como terras raras e matriz energética competitiva. Nesse sentido, o setor privado não deve esperar apenas por negociações governamentais. Parcerias bem estruturadas, lobby profissional e busca de novos mercados, reduzem a dependência de um único comprador. Enquanto isso investimentos em infraestrutura e na atração de talentos podem acelerar o salto de valor em cadeias que evoluem do extrativismo para o refino e para a tecnologia aplicada.
Adriana avalia que o momento é de transformação contínua, mais do que de ruptura súbita. A instabilidade exige governança enxuta, com menos camadas hierárquicas e decisões mais rápidas. Por outro lado, práticas de compliance tendem a ganhar peso em cadeias expostas a tarifas e a exigências ambientais. Empresas que unirem disciplina de caixa, visão de dados, e execução simples largam na frente quando a maré muda.
Checklist prático para o empresariado
- Reforçar colchão de caixa e negociar limites de crédito com antecedência;
- Inserir gatilhos de repricing em contratos que dependem de tarifas e fretes;
- Mapear fornecedores alternativos e hubs logísticos para rotas críticas;
- Integrar sistemas e criar painéis com indicadores de risco e de liquidez;
- Revisar políticas de derivativos e câmbio a cada seis meses;
- Capacitar lideranças para comunicar risco sem pânico e com metas claras;
- Usar incentivos à inovação quando elegíveis e acompanhar efeitos da reforma;
O alerta sobre o sistema financeiro, sinaliza um ambiente mais sensível a choques e com prêmios de risco mais exigentes. Nesse sentido, vantagem competitiva nasce de liquidez bem gerida contratos inteligentes dados organizados e liderança capaz de decidir com serenidade. Por outro lado, esperar clareza total pode custar caro. As empresas que se prepararem agora, estarão prontas para atravessar a instabilidade e capturar as oportunidades que surgirem quando a poeira baixar.