O programa BM&C Visões, apresentado por Isabela Tacaki, recebeu o cientista político André Lajst, presidente do StandWithUs Brasil, para discutir o recente acordo anunciado como caminho para a paz na Palestina. A conversa abordou implicações políticas, de segurança e diplomáticas para a região e para os atores internacionais, com ênfase na devolução de reféns, na desmilitarização de Gaza e na necessidade de um arranjo institucional capaz de reduzir a influência de grupos radicais.
Ao longo da entrevista, Lajst destacou alívio inicial com a liberação de reféns e apontou que o cessar-fogo permanece frágil. Além disso, explicou que a primeira etapa do plano avança quando há troca de prisioneiros e redesenho de posições militares, enquanto as etapas seguintes dependem de decisões políticas complexas. Nesse sentido, a continuidade do processo exige desradicalização, reconstrução e formação de um governo civil tecnocrático em Gaza, o que ainda encontra resistência.
Quais são os pilares do acordo em debate
Segundo Lajst, o plano divulgado em fases prevê passos de segurança e passos políticos. Enquanto isso, a execução prática requer coordenação entre Israel, atores árabes e os Estados Unidos. Por outro lado, sem adesão consistente do Hamas às fases posteriores, cresce o risco de retorno das hostilidades. A leitura central do convidado é que a libertação de reféns retirou a principal alavanca do grupo, mas não encerrou as divergências sobre o futuro de Gaza.
- Fase de segurança com libertação de reféns e reposicionamento militar
- Fase política com desmilitarização e transferência de poder para autoridade civil
- Reconstrução, desradicalização e apoio de um conselho internacional
O que impede a paz na Palestina avançar
Lajst argumenta que o componente técnico pode ser equacionado por negociações sobre fronteiras, segurança e reassentamento. Além disso, recorda pontos herdados dos Acordos de Oslo, como o reconhecimento mútuo e a criação da Autoridade Nacional Palestina. Nesse sentido, a dificuldade central decorre da dimensão política e simbólica envolvida em temas como Jerusalém, assentamentos e refugiados, que mobilizam identidades, religiosidade e memórias de conflito.
Para o cientista político, a educação e a narrativa pública exercem papel decisivo. Enquanto persistirem discursos que negam o direito de existência do outro, a aceitação de compromissos duradouros tende a ser menor. Por outro lado, mudanças institucionais, reformas na liderança palestina e um período prolongado de estabilidade poderiam reabrir espaço para um consenso mínimo entre as sociedades.
Qual é o cálculo dos atores regionais e internacionais?
O convidado avaliou a importância do endosso de países árabes e o papel dos Estados Unidos como fiadores de garantias. Além disso, citou interesses específicos de Turquia, Egito e Qatar, que buscaram contrapartidas de segurança e defesa. Nesse sentido, a capacidade de manter alinhamento diplomático nas próximas etapas será determinante para o sucesso do plano. Caso as fases políticas não avancem, a avaliação internacional pode migrar de crédito inicial para críticas ao resultado insuficiente.
Outro ponto mencionado envolve o reequilíbrio regional após perdas militares de grupos apoiados pelo Irã. Enquanto isso, governos vizinhos perseguem estabilidade doméstica e afastamento de radicalismos. Por outro lado, Lajst ressalta que a consolidação desses movimentos depende de tempo, governança e controle de fronteiras, sem os quais a janela de oportunidade se estreita.
É possível retomar a solução de dois Estados?
Para Lajst, a resposta é condicional. Além disso, seria preciso demonstrar viabilidade técnica e aceitação política simultaneamente. Nesse sentido, a recomendação envolve um caminho que inclua desmilitarização, reforma das instituições palestinas, moderação das narrativas e sinais claros de abandono da violência. Enquanto isso, do lado israelense, o trauma social do ataque de 7 de outubro ainda limita o espaço político para concessões imediatas.
O avanço dependeria de gestos verificáveis e de um período consistente de redução de tensões. Por outro lado, a ausência de avanços concretos alimenta desconfiança e incentiva atores extremistas. A sequência de passos e a criação de mecanismos de monitoramento internacional aparecem como caminhos para transformar o cessar-fogo em processo de paz gradual.
O que muda após o acordo de paz na Palestina para a percepção de segurança?
O entrevistado enfatizou que a devolução de reféns atenua dores imediatas, embora não encerre o ciclo de ameaças. Além disso, as famílias afetadas e as comunidades locais demandam previsibilidade e proteção contra novos ataques. Nesse sentido, a reconstrução de Gaza com governança civil, fiscalização de armamentos e engajamento internacional são condições apontadas como necessárias para reduzir incentivos ao conflito.
Lajst compartilhou uma visão de esperança ancorada em resultados práticos. Enquanto isso, o horizonte de integração econômica e de circulação segura entre cidades hoje separadas por barreiras depende de liderança política, reformas institucionais e educação voltada à coexistência. Por outro lado, sem esses elementos, a retórica de paz não se traduz em mudanças no cotidiano das pessoas.
Quais lições o debate no BM&C Visões deixa para a agenda de paz?
A conversa conduzida por Isabela Tacaki mostrou que a busca por paz na Palestina exige simultaneamente acordos de segurança, governança inclusiva e compromisso de longo prazo. Além disso, a articulação entre Estados Unidos e países árabes fortalece canais de mediação que pressionam atores locais a cumprirem etapas pactuadas. Nesse sentido, o caso de Gaza funciona como teste da capacidade coletiva de desarmar tensões e construir instituições resilientes.
O programa também reforçou a importância de separar o que é tecnicamente negociável do que depende de mudanças políticas e culturais. Enquanto isso, a opinião pública precisará ser mobilizada por resultados tangíveis, como redução de violência, reabertura de serviços e geração de oportunidades econômicas. Por outro lado, a ausência de progresso concreto tende a reativar ciclos de descrença e radicalização.