O mercado global de commodities começou a semana com um novo marco histórico. O ouro ultrapassou a marca de US$ 4.100 por onça na segunda-feira (13), atingindo o maior valor já registrado. O movimento reflete o aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, além das expectativas de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve. O metal precioso, reconhecido como um dos principais ativos de proteção, vem se beneficiando do cenário de incertezas e da busca global por segurança em um ambiente econômico mais instável.
Para Sérgio Machado, gestor da MAG Investimentos, o fortalecimento recente do ouro está diretamente relacionado à desvalorização estrutural do dólar e ao enfraquecimento de outras moedas globais. O gestor lembra que a participação do dólar nas reservas internacionais caiu de 60% em 2000 para cerca de 43% em 2024, o que indica uma diversificação das reservas globais em busca de proteção. “Estamos vivendo um fenômeno que alguns economistas chamam de Debasement Trade, uma saída das moedas fiduciárias para ativos de segurança. O ouro acaba sendo o principal destino quando há dúvidas sobre a estabilidade do sistema monetário”, explicou.
Além disso, o ambiente político e econômico dos Estados Unidos tem contribuído para a alta do metal. A política comercial mais agressiva do presidente Donald Trump, marcada por tarifas e tensões com a China, vem gerando expectativas de uma desvalorização do dólar. Esse cenário estimula o movimento de proteção dos investidores e fortalece a demanda por ouro, visto como reserva de valor em tempos de incerteza.
Podemos estar diante de uma bolha no mercado de ouro?
Apesar da alta valorização recente, um debate que volta ao redar é se o ouro pode estar em uma possível fase de bolha. Na avaliação de Sérgio Machado, o ouro pode sim estar exibindo sinais de uma possível bolha, ainda que sustentada por fundamentos reais de curto prazo. O gestor explica que a valorização acelerada do metal, sem um evento específico que justifique tamanha alta, costuma anteceder períodos de correção. Ele destaca que historicamente, movimentos muito intensos de valorização do ouro são seguidos por quedas médias de até 15%.
De fato, nos últimos 45 dias, o ouro acumulou uma alta de aproximadamente 600 dólares por onça, o que evidencia o ritmo acelerado do rali recente. Enquanto o bitcoin e outras criptomoedas apresentaram comportamento lateral, o metal precioso manteve trajetória ascendente, reforçando sua posição como ativo tradicional de proteção. “Na hora que o mercado aperta, o ouro se sobressai. Ele tem solidez histórica, algo que as criptomoedas ainda não conseguiram consolidar”, afirmou Machado.
“Mas o risco de bolha não vem apenas da euforia dos investidores, e sim da soma de fatores, juros em queda, incerteza política e busca excessiva por proteção, que empurram o preço para níveis distantes da realidade de equilíbrio”, afirma Machado. O gestor destaca que não existe ativo que só sobe. O ouro pode, sim, passar por correções acentuadas, principalmente se o contexto macroeconômico melhorar ou se houver uma reversão no fluxo dos investidores. De acordo com Machado, o investidor deve ter cautela e não se deixar levar apenas pelo momento de alta. “É necessário avaliar fundamentos e manter o equilíbrio na diversificação de investimentos”, afirma.
Vale a pena investir em ouro agora?
Para aqueles que consideram investir no ouro, alguns pontos devem ser levados em consideração. O gestor da MAG Investimentos, destaca que o investidor deve ter cautela antes de entrar no topo de um ciclo de alta tão intenso. “A cada dia que o ouro sobe, maior é o risco de realização. É um ativo de proteção, mas também com volatilidade alta, similar à de outros ativos de risco. Não é porque ele é um ativo secular que está imune a quedas expressivas”, observou Machado. Ele destaca que, embora o ouro siga com fundamentos de médio prazo favoráveis, o ponto de entrada atual exige disciplina e visão de longo prazo.
Em caso de correção, Machado acredita que níveis próximos de US$ 3.500 por onça poderiam servir como suportes técnicos razoáveis. Esse patamar, segundo ele, representaria uma consolidação saudável após a forte escalada recente e abriria espaço para novas entradas de investidores institucionais. “O ouro pode continuar sendo uma boa proteção, mas é importante entender que o momento atual é de euforia, e euforia exige prudência”, completou.</p>
O gestor também apontou qual deve ser o papel do ativo na carteira dos investidores. “O ouro pode compor uma pequena parcela da carteira de quem busca proteção, mas dificilmente deve ser tratado como protagonista de uma estratégia. O equilíbrio e a análise de risco são essenciais.”
Com os mercados globais em compasso de incerteza, o ouro reafirma seu papel histórico de proteção, mas a escalada recente levanta alertas sobre possíveis exageros. A leitura predominante é de que os fundamentos seguem válidos, mas o investidor precisa equilibrar a busca por segurança com a consciência de que todo rali, cedo ou tarde, encontra um ponto de ajuste.