O Banco Mundial apresentou uma revisão positiva para o crescimento do Brasil em 2025, apontando um desempenho econômico acima das projeções anteriores. O economista Beto Saadia, da Nomos, analisou esses dados e destacou que boa parte desse crescimento é resultado de fatores conjunturais e inesperados. Segundo ele, o país está “surfando numa maré de sorte“, impulsionado pela desvalorização global do dólar, queda nos preços das commodities e uma supersafra agrícola que ajudaram a conter a inflação.
Apesar do otimismo, o especialista alerta que o cenário pode mudar caso esses fatores externos deixem de atuar a favor do país. A sustentabilidade desse crescimento dependerá da condução da política fiscal e da capacidade do governo de manter a confiança do mercado.
Como a desvalorização do dólar impacta a inflação?
Beto Saadia levantou uma questão central: até quando o câmbio poderá segurar a inflação? Ele afirmou que, sem a valorização do real, a taxa Selic poderia estar entre 15,5% e 16%, conforme as reações do mercado. Essa valorização tem sido crucial para reduzir os preços de alimentos e bens industriais, embora o setor de serviços ainda mantenha pressão inflacionária.
Além disso, a recente estabilidade do dólar frente ao real tem proporcionado um alívio temporário ao Banco Central, permitindo maior previsibilidade sobre as expectativas de inflação. No entanto, Beto ressalta que essa situação é frágil e depende de fatores internacionais como política monetária dos Estados Unidos e demanda global por commodities.
Fatores externos ou fundamentos sólidos?
O economista enfatizou que, por ora, o Brasil está sendo beneficiado por uma conjuntura internacional favorável, e não por fundamentos econômicos sólidos. “Estamos sendo ajudados por fatores externos, não por fundamentos sólidos”, destacou Beto. Essa análise é crucial, pois indica que o país continua vulnerável a mudanças bruscas no cenário global.
Um eventual fortalecimento do dólar poderia reverter parte dos ganhos recentes, pressionando o câmbio e elevando os custos de importação. Nesse contexto, o desafio do governo será manter a estabilidade interna sem depender exclusivamente de elementos externos.
Qual é a perspectiva para a política fiscal?
Além dos efeitos cambiais, Beto Saadia destacou a importância da política fiscal para sustentar o crescimento. A gestão das contas públicas precisa ser monitorada de perto, já que um aumento nos juros para conter a inflação pode comprometer a recuperação econômica. O economista enfatiza que é essencial encontrar um ponto de equilíbrio entre crescimento e controle de preços, preservando a credibilidade fiscal e a confiança dos investidores.
Nesse sentido, a previsibilidade das metas fiscais e a eficiência na execução do orçamento se tornam fatores determinantes. O governo deve buscar soluções estruturais, evitando medidas de curto prazo que comprometam o equilíbrio futuro.
Quais estratégias de investimento adotar?
Em um ambiente de otimismo cauteloso, os investidores devem priorizar a diversificação de portfólios. Beto sugere aproveitar as oportunidades geradas pela valorização do real e pela redução nos preços das commodities. Setores ligados à agropecuária e infraestrutura podem se beneficiar diretamente do cenário positivo no curto prazo.
Por outro lado, o especialista recomenda cautela com ativos mais voláteis, especialmente aqueles sensíveis a oscilações cambiais. “O foco deve estar em ativos reais e setores que se beneficiam da recuperação agrícola e da estabilidade de preços”, pontua Saadia.
Conclusão: um olhar para o futuro
A análise de Beto Saadia oferece uma leitura equilibrada sobre o futuro econômico do país. Embora o Banco Mundial projete crescimento para o Brasil em 2025, a dependência de fatores externos ainda representa um risco considerável. O desafio está em transformar o impulso atual em uma trajetória de crescimento sustentável, baseada em políticas fiscais sólidas e maior produtividade.
Assim, tanto formuladores de políticas quanto investidores precisam permanecer atentos às mudanças no cenário internacional. A consistência das ações internas será o fator decisivo para garantir que o crescimento projetado se consolide nos próximos anos.
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