Investidores de Certificados de Operações Estruturadas (COEs) vinculados aos títulos de dívida (bonds) da Braskem e da Ambipar deverão enfrentar perdas que podem chegar a 93% do valor investido, segundo comunicados enviados por instituições financeiras como XP Investimentos e BTG Pactual aos seus assessores e clientes.
Os produtos foram liquidados de forma antecipada em razão das cláusulas de vencimento obrigatório, um mecanismo previsto no contrato que é acionado quando o ativo de referência sofre forte desvalorização. A decisão afeta diferentes emissões de COEs distribuídas ao longo de 2023 e início de 2024, envolvendo milhares de investidores de varejo.
O que dizem os comunicados
Nos comunicados internos, as instituições informaram que os COEs da Ambipar — emitidos até 18 de março de 2024 — terão liquidação financeira em 7 de outubro de 2025, com retorno de apenas 6,88% do valor investido. Já os COEs da Braskem, emitidos até 25 de março do mesmo ano, terão liquidação na sexta-feira, 10 de outubro, com pagamento entre 26,62% e 36,97% do montante aplicado, a depender da emissão.
Isso significa que parte dos investidores receberá menos de 10% do capital aplicado. As instituições também informaram que disponibilizarão planilhas individuais com os valores executados para cada cliente afetado.
Como funcionam os COEs e por que envolvem riscos
O Certificado de Operações Estruturadas é um instrumento que combina renda fixa e derivativos, buscando oferecer rentabilidade superior à de produtos tradicionais, mas com riscos significativamente maiores. No caso de Braskem e Ambipar, a rentabilidade estava atrelada ao desempenho de bonds corporativos emitidos no exterior.
Embora os COEs sejam regulamentados, eles podem resultar em perda parcial ou total do principal quando o ativo de referência sofre forte desvalorização. As cláusulas de vencimento antecipado — presentes em algumas estruturas — encerram o produto automaticamente quando o valor do ativo cai além de um limite pré-definido.
O que levou às perdas bilionárias
O desempenho negativo dos bonds da Ambipar e da Braskem foi o principal fator que levou à liquidação. No mercado secundário, os papéis da Ambipar chegaram a ser negociados a cerca de 13% do valor de face, enquanto os da Braskem alcançaram até 20%. Essa deterioração foi suficiente para acionar as cláusulas automáticas e gerar prejuízos elevados aos investidores.
No caso da Ambipar, a empresa passa por um processo de reestruturação de dívidas e enfrentou dificuldades financeiras após aquisições internacionais. Já a Braskem lida com problemas ambientais e aumento de alavancagem, o que pressionou o preço de seus títulos no exterior.
Reclamações e questionamentos
Em plataformas como o Reclame Aqui, investidores relatam perdas expressivas e falta de clareza na comunicação dos riscos. Alguns afirmam que os COEs foram apresentados como produtos de “risco moderado”, sem explicação detalhada sobre o mecanismo de vencimento antecipado.
Há casos relatados de investidores que aplicaram cerca de R$ 300 mil e receberão menos de R$ 20 mil. Especialistas em finanças pessoais consideram o episódio um alerta sobre a importância da compreensão integral do produto antes da aplicação.
O que o investidor precisa entender
Os COEs não são produtos de renda fixa tradicional. Apesar de muitas vezes serem vendidos como instrumentos “protegidos”, na prática eles envolvem exposição a ativos de maior risco e com baixa liquidez. É essencial que o investidor compreenda três pontos antes de aplicar:
- 1. Estrutura do produto: o COE pode incluir derivativos que amplificam perdas;
- 2. Gatilhos automáticos: algumas estruturas encerram o investimento antes do prazo, em caso de queda acentuada dos ativos;
- 3. Liquidez e resgate: geralmente não há possibilidade de venda antes do vencimento, o que impede reagir a crises de mercado.
Analistas também apontam a necessidade de maior educação financeira entre investidores de varejo.
Como se proteger em futuras aplicações
Para evitar situações semelhantes, especialistas recomendam:
- Priorizar produtos compreendidos integralmente pelo investidor;
- Buscar informações detalhadas sobre o ativo de referência e os gatilhos de perda;
- Consultar mais de uma instituição financeira antes de investir em produtos estruturados;
- Manter a diversificação como pilar central, evitando concentrar recursos em instrumentos complexos.
O episódio reforça um ponto central: rentabilidade maior quase sempre vem acompanhada de risco proporcional. Conhecer, questionar e entender antes de investir é a melhor forma de proteger o patrimônio.
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