O recente rali das ações de tecnologia, impulsionado sobretudo pelo avanço da inteligência artificial, tem alimentado debates entre analistas sobre a sustentabilidade desse movimento. Empresas ligadas a esse setor têm apresentado resultados sólidos, o que afasta a ideia de uma bolha imediata, ainda que correções de curto prazo não possam ser descartadas. O cenário atual mostra que a tecnologia tem sido a principal locomotiva de ganhos em Wall Street, enquanto setores mais tradicionais ficam em segundo plano.
Segundo o economista Richard Rytenband, a valorização não pode ser analisada apenas pelo prisma dos preços. “O contexto global, marcado por desglobalização e pela chamada “corrida tecnológica”, reforça a relevância desses ativos no médio e longo prazo“, avalia. Para ele, mesmo que haja momentos de exagero, os fundamentos seguem robustos e conversam com tendências estruturais que devem pautar os próximos anos.
O que explica a força do rali tecnológico?
Rytenband destaca que a atual onda de desglobalização, intensificada após a crise de 2008 e acelerada pela pandemia, trouxe mudanças profundas nas cadeias produtivas e no sistema financeiro internacional. Esse processo, que lembra o período entre 1929 e 1979, inclui tensões geopolíticas e fragmentação de mercados. “Dentro desse cenário, a corrida tecnológica emerge como vetor central, criando oportunidades únicas para empresas e investidores“, explica.
A inteligência artificial, os semicondutores avançados e a computação quântica são exemplos de setores fundacionais que devem transformar a economia de forma estrutural. Essas áreas não apenas atraem investimentos bilionários, como também se tornaram palco da rivalidade entre potências como Estados Unidos e China. Nesse sentido, o rali não se resume a movimentos especulativos, mas reflete um novo desenho de longo prazo da economia global.
Correções de curto prazo são inevitáveis?
Apesar do otimismo estrutural, Rytenband alerta para a possibilidade de movimentos de correção. Ele cita Benoît Mandelbrot, matemático e pai da geometria fractal, que descreveu os efeitos “José” e “Noé”. O primeiro se refere à inércia de uma tendência, preços que continuam subindo pela própria dinâmica de mercado. Já o segundo aponta para momentos de descontinuidade, quando excessos levam a quedas abruptas. Esse fenômeno pode ocorrer até mesmo em ativos com fundamentos sólidos.
Por outro lado, tais correções também podem abrir espaço para oportunidades. “Que bom que tenham correções”, afirma Rytenband, lembrando que isso permite aos investidores ajustarem suas posições de forma mais estratégica e com visão de longo prazo. “O importante é calibrar a exposição e alinhar expectativas de retorno com o horizonte temporal adequado“, destaca.
Além da desglobalização, Rytenband chama atenção para o risco de estagflação no médio prazo. Esse contexto, caracterizado por baixo crescimento e inflação persistente, reforça a atratividade dos setores tecnológicos, já que eles oferecem alternativas de inovação e produtividade em um ambiente econômico desafiador. Assim, o investidor precisa considerar não apenas o movimento atual das bolsas, mas também como essas transformações estruturais vão se desenrolar nos próximos anos.
Quais setores podem liderar a próxima década?
Para o economista, o investidor atento deve focar em áreas diretamente ligadas à corrida tecnológica. Entre os setores citados, destacam-se:
- Inteligência Artificial: motor atual do rali, com aplicações em múltiplos segmentos.
- Semicondutores avançados: fundamentais para sustentar a infraestrutura tecnológica.
- Computação Quântica: tecnologia emergente com potencial disruptivo.
- Cadeias produtivas estratégicas: setores que se beneficiam da reconfiguração global.
Esses vetores, alinhados ao processo de desglobalização, têm grande potencial de se manter como protagonistas, mesmo diante de correções pontuais. A visão de longo prazo é, portanto, indispensável para aproveitar a onda estrutural que deve marcar a próxima década.