O Brasil voltou a receber fluxo positivo de capital estrangeiro em 2025, após um período de retração. Apenas até agosto, o saldo líquido alcançou R$ 24,2 bilhões, superando todo o montante registrado em 2024, quando o país enfrentou a maior saída de recursos em quatro anos. A recuperação reforça o interesse seletivo de investidores internacionais, ainda que sem apoio de novas aberturas de capital.
De acordo com dados da B3, agosto ilustra bem essa dinâmica. O saldo líquido foi de R$ 1,17 bilhão, com R$ 274,8 bilhões em compras contra R$ 273,65 bilhões em vendas. A diferença mínima revela uma postura cautelosa, mas confirma que o mercado brasileiro voltou ao radar global, com exceção de abril e julho, únicos meses de saída líquida em 2025.
O que explica a volta do capital estrangeiro?
Segundo Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, não há elementos suficientes para afirmar que o movimento seja estrutural. Ele avalia que fatores regulatórios e de segurança jurídica evoluíram, reforçando a confiança dos investidores, mas a política fiscal continua sendo um ponto de vulnerabilidade. “Não dá para dizer que é uma mudança estrutural, é um movimento pontual, aproveitando as oportunidades que a Bolsa oferece”, afirma.
Veja 4 motivos que explicam a atratividade recente:
- Valorização da segurança jurídica e do ambiente regulatório;
- Melhorias no mercado de capitais, como a instrução 175 da CVM;
- Barateamento das ações brasileiras nos últimos meses;
- Perspectiva de queda dos juros a partir do final de 2025;
- Cenário internacional adverso, com tensões comerciais e desaceleração na Europa e nos EUA.
Quais setores estão no radar do capital estrangeiro?
Os aportes estrangeiros têm se concentrado em setores estratégicos que unem resiliência doméstica e potencial de expansão global. Entre eles, destacam-se:
- Tecnologia: inovação e digitalização de serviços;
- Energia: sobretudo em fontes renováveis e infraestrutura para data centers;
- Infraestrutura: modernização de rodovias, portos e ferrovias;
- Saúde: crescimento da demanda por serviços privados e inovação;
- Agronegócio: competitividade nas commodities agrícolas;
- Serviços financeiros: fintechs e bancos digitais em expansão;
- Imóveis: fundos imobiliários e logística corporativa.
Esses setores oferecem, segundo Agostini, retornos de dois dígitos em emergentes como o Brasil, superiores ao padrão das economias desenvolvidas.
Qual é a diferença em relação a 2024?
No ano passado, a saída líquida de capital estrangeiro refletiu a falta de clareza sobre a condução fiscal e monetária. Já em 2025, a manutenção da taxa Selic em patamar elevado, mas estável, somada a sinais de compromisso com o ajuste fiscal, trouxe um novo fôlego. Além disso, a busca global por diversificação diante das tensões comerciais colocou o país em posição de vantagem.
Agostini ressalta que o momento atual é favorável, mas não isento de riscos. “O Brasil se destaca frente a outros emergentes pelo tamanho de sua economia e pelo poder de compra de sua população, mas a disciplina fiscal e a estabilidade política serão determinantes para sustentar esse fluxo”, explica.
Quais os impactos para a economia real?
A entrada de capital estrangeiro fortalece a liquidez da Bolsa, valoriza ativos e reduz o custo de captação das empresas brasileiras. Além disso, contribui para a imagem do país no exterior e abre espaço para processos de internacionalização de companhias nacionais. No entanto, a manutenção desse ciclo depende de variáveis externas, como o desfecho do tarifaço nos EUA, e internas, como a gestão das contas públicas.
Se confirmada a tendência, 2025 pode se consolidar como o melhor ano desde 2022 em termos de entrada de capital estrangeiro. O desafio, contudo, será transformar esse fluxo em crescimento sustentável e estabilidade de longo prazo, evitando que se torne apenas um movimento passageiro em meio à volatilidade global.